O TÚMULO DE KEATS
HEU MISERANDE PUER!
Oscar Wilde
Rid of the world’s injustice and its pain,
He rests at last beneath God’s veil of blue;
Taken from life while life and Love were new.
The youngest of the martyrs here is lain,
Fair as Sebastian and as foully slain.
No cypress shades his grave, nor funeral yew,
But red-lipped daisies, violets drenched with dew,
And sleepy poppies, catch the evening rain.
O proudest heart that broke for misery!
O saddest poet that the world hath seen!
O sweetest singer of the English land!
Thy name was writ in water on the sand,
But our tears shall keep thy memory green,
And make it flourish like a basil-tree.
Rome, 1877
HEU MISERANDE PUER!
Oscar Wilde
Livre da injustiça e da dor do mundo,
Ele finalmente descansa sob o véu azul de Deus,
Arrancado da vida enquanto a vida e o amor apenas principiavam.
Aqui descansa o mais jovem dos mártires,
Como Sebastião, belo e impiedosamente morto.
Ciprestes não sombreiam seu túmulo, nem ornamentos funerários,
Apenas margaridas rubras, violetas orvalhadas,
E papoulas sonolentas, que colhem a chuva do entardecer.
Ó orgulhoso coração que a tragédia destruiu!
Ó poeta mais triste que o mundo conheceu!
Ó cantor mais doce da Inglaterra!
Teu nome foi escrito com água sobre a areia,
Mas nossas lágrimas manterão viva tua memória,
E a farão florescer como o manjericão.
Roma, 1877
Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta
A FUGA DA LUA
Oscar Wilde
Há uma paz em demonstrar os sentimentos,
Uma paz de sonhos em nossas mãos,
Silêncio profundo sob sombras,
Silêncio profundo quando as sombras se vão.
Exceto por um grito que ecoa
De um pássaro sozinho, desolado;
Um corvo chamando seu par;
Atravessando as colinas em bruma.
E, de repente, a lua retira
Sua rosto do céu iluminado,
E lança a sua sombra,
Envolta numa mortalha de tênues névoas.
Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta
APOLOGIA
Oscar Wilde
É tua vontade que eu me canse,
Troque minhas vestes douradas por farrapos,
E ao teu prazer teça a fímbria da dor,
Cujos fios mais reluzentes são perdidos dias?
É tua vontade – meu Amor tão grande –
Que a casa de minha alma seja o cárcere de tortura
Onde, como a cela do mal, viva
Sob incessante chama, sem que descansem os vermes?
Não, se for a tua vontade, suportarei
E venderei a ambição em praça pública,
E deixarei o fracasso me cobrir por inteiro,
E a tristeza escavar sua tumba em meu coração. Talvez seja melhor assim – ao menos
Não deixei o coração endurecer como pedra,
Nem deixei de desfrutar das alegrias da infância,
Nem andei por onde a Beleza fosse desconhecida. Muitos homens fizeram isso; cercaram
Sua alma quando deveriam deixá-la livre,
Percorreram a estrada desgastada do bom senso,
Enquanto a floresta cantava a sua liberdade, Sem ver como o falcão em voo
Passava ao largo a cortar o ar enfunado,
Até a alta montanha inexplorada,
Onde o sol larga os últimos fios de suas loiras madeixas. Ou como as mínimas flores onde ele pisou,
A margarida, este pequeno escudo de pétalas brancas,
Seguiu, com olhos atentos, o sol a vagar,
Feliz que suas folhas resplandecessem pelo menos uma vez.
Porém, certamente, é melhor ter sido
Mais amado por pouco tempo,
Do que ter andado de mãos dadas com o Amor, e visto
Suas asas púrpuras cortarem o teu sorriso.
Ai! Embora a áspide da paixão se alimente
Do meu coração de menino, rompi as barreiras,
Ergui-me diante da Beleza, e conheci
O Amor que move o Sol e as estrelas!
Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta