terça-feira, 27 de dezembro de 2022

O Espectro da Rosa (poema de T. Gautier e balé de Nijinsky)

LE SPECTRE DE LA ROSE

Théophile Gautier (1811-1872)

Soulève ta paupière close
Qu’effleure un songe virginal ;
Je suis le spectre d’une rose
Que tu portais hier au bal.
Tu me pris encore emperlée
Des pleurs d’argent de l’arrosoir,
Et parmi la fête étoilée
Tu me promenas tout le soir.
Ô toi qui de ma mort fus cause,
Sans que tu puisses le chasser
Toute la nuit mon spectre rose
A ton chevet viendra danser.
Mais ne crains rien, je ne réclame
Ni messe, ni De Profundis ;
Ce léger parfum est mon âme
Et j’arrive du paradis.
Mon destin fut digne d’envie :
Pour avoir un trépas si beau,
Plus d’un aurait donné sa vie,
Car j’ai ta gorge pour tombeau,
Et sur l’albâtre où je repose
Un poète avec un baiser
Ecrivit : Ci-gît une rose
Que tous les rois vont jalouser.

O ESPECTRO DA ROSA
Théophile Gautier (1811-1872)
Levante tuas pálpebras cerradas
Que sustêm um sonho virginal;
Sou o espectro de uma rosa
Que ontem portaste ao baile.
Apanhaste-me ainda emperlada
Com lágrimas prateadas da rega,
E na festa estrelada,
Passeaste comigo por toda noite.
Ó tu que causaste minha morte,
Sem que pudesses evitá-la,
Toda noite meu espectro rosa
Virá dançar ao lado de tua cama.
Mas não tenhas medo, não reivindico
Nem Missa, nem De Profundis;
Este leve perfume é minha alma
Que trouxe do Paraíso.
Meu destino foi digno de ciúmes:
Por ter uma morte tão bela,
Muitos teriam dado sua vida,
Pois teu colo é minha tumba,
E no alabastro onde repouso,
Um poeta, com um beijo,
Escreveu: "Eis uma rosa
Que todos os reis invejarão".

O ESPECTRO DA ROSA (o balé)

O libreto do balé O Espectro da Rosa foi escrito pelo escritor e poeta francês Jean-Louis Vaudoyer (1883-1963), baseado em um poema homônimo de Théophile Gautier e usando uma peça para piano “Aufforderung zum Tanz” (“Convite para a dança”), de Carl Maria von Weber, de 1819 e orquestrada por Hector Berlioz, em 1841. Estreou em Monte Carlo em 19 de abril de 1911, no Ballets Russes, com coreografia de Michel Fokine, cenário e figurinos de Léon Bakst. Nijinsky dançou A Rosa e Tamara Karsavina, a Jovem. Para surpresa de Diaghilev, o balé foi um grande sucesso. O Espectro tornou-se internacionalmente famoso graças ao salto espetacular de Nijinsky por uma janela ao final do balé.


LES BALLETS RUSSES Em 1911, Sergei Diaghilev, o produtor do Ballets Russes, esperava apresentar a primeira coreografia de Nijinsky, “A tarde de um fauno”, com música de Debussy, inspirada no poema homônimo de Mallarmé, que só estrearia em fevereiro de 1912. Como ainda não estava pronto para estreia, ele precisava de outro balé para substituí-lo. Em 1910, Jean-Louis Vaudoyer (aos 25 anos) teve a ideia de enviar a sugestão para o Ballets Russes e ao cenógrafo Léon Bakst, inspirado em “O Espectro da Rosa”, poema de Théophile Gautier, e a peça para piano “Aufforderung zum Tanz” (“Convite para a dança”), de Carl Maria von Weber, de 1819, orquestrada por Hector Berlioz em 1841. Diaghilev gostou da ideia. Pensou que poderia facilmente ocupar o lugar do “Fauno”. Resolveu desenvolvê-la imediatamente, pois poderia associá-la ao centenário de nascimento de Gautier. A MÚSICA DE WEBER Em 1819, Carl Maria von Weber escreveu uma obra para piano chamada “Aufforderung zum Tanz”. Também escreveu um libreto para esse trabalho sobre um rapaz e uma moça que se conhecem e dançam num baile. A música tranquila na abertura de “Aufforderung” leva a algumas belas (e agitadas) valsas antes de terminar novamente com a música de abertura. Em 1841, Hector Berlioz orquestrou a “Aufforderung”. Essa versão da música foi usada para um curto balé na ópera “Der Freischütz”, de Weber, na Opéra de Paris. A versão de Berlioz para a peça original para piano foi a usada no balé “O espectro da rosa”. A ESTREIA “O Espectro” estreou em 19 de abril de 1911 com o Ballets Russes de Diaghilev no Théâtre de Monte Carlo. Tamara Karsavina dançou a Jovem e Nijinsky dançou A Rosa. “O Espectro” foi um “sucesso imediato”. Diaghilev ficou surpreso. Ele achava que O Espectro não valia a pena, mas o pequeno balé tornou-se uma das produções mais amadas do Ballets Russes.


O TRAJE DE NIJINSKY O traje de malha de seda de Nijinsky foi desenhado por Léon Bakst. O traje era coberto de pétalas de rosa de seda que eram costuradas no traje de Nijinsky a cada espetáculo. Depois da apresentação, a camareira retocava as pétalas com seu modelador de cabelo. A maquiagem de Nijinsky era uma parte importante do figurino. Romula de Pulszky, que mais tarde tornou-se sua esposa, escreveu que ele parecia “um inseto celestial, com sobrancelhas que sugeriam um lindo besouro”. O traje de Nijinsky equivalia ao de uma bailarina. Às vezes, as pétalas se soltavam e caíam no palco. Vasili, o assistente de Nijinsky, recolhia as pétalas e vendia-as como souvenirs. Diz-se que construiu uma grande casa chamada “Le Château du Spectre de la Rose” com o que auferiu com a venda das pétalas.


O SALTO DE NIJINSKY O balé tornou-se famoso pelo salto de Nijinsky por uma das grandes janelas ao fundo do palco. A altura do salto, no entanto, era uma ilusão. Nijinsky dava uma corrida de cinco passos do meio do palco e saltava pela janela no sexto passo. A base da janela era muito baixa, dando a impressão de que o salto fosse mais alto do que era. Nos bastidores, quatro homens seguravam Nijinsky ainda no ar, pondo toalhas quentes sobre ele. Ninguém na plateia via Nijinsky tocar o chão, dando a impressão de continuar voando. Essa ilusão era enfatizada pelo maestro que sustentava o penúltimo acorde da orquestra. Ao fazer isso, o salto dava a impressão de ter maior comprimento e altura.


A COREOGRAFIA DE FOKINE Michel Fokine completou a coreografia do balé em três ou quatro ensaios. Mais tarde, escreveu que o balé foi quase um improviso. “O Espectro” é um pas de deux sem a complexa técnica e virtuosismo do século 19, como uma dança moderna, com movimentos e expressividade contínuos. Fokine abandonou o port de bras do balé clássico ao criar essa coreografia para Nijinsky. Em vez disso, usou movimentos curvos dos braços e das mãos, semelhantes às hastes das roseiras. Nijinsky, neste balé, tornou-se um personagem andrógino, mostrando força masculina nas pernas e delicadeza feminina nos braços, o que, segundo Ostwalt, em “Nijinsky: Um salto para a loucura” , “emprestava uma aura feminina ao personagem”.


A SINOPSE A cortina se abre no quarto de uma jovem. Ela entra, usando um chapéu branco e um vestido de baile. Ela está voltando para casa após seu primeiro baile, segurando uma rosa como lembrança daquela noite. Deixa-se cair numa cadeira e adormece. A rosa tomba de seus dedos no chão. O Espírito da Rosa salta pela janela. Ele pousa e aproxima-se da Jovem. Dormindo, ela se levanta e dança com ele. Ele a devolve à cadeira, beija-a, salta pela janela e some na noite. A Jovem desperta e se levanta. Pega a rosa do chão e a beija. A cortina se fecha.


Fazendo pesquisa sobre a origem de todos os balés clássicos desde 1789 (La fille mal gardée), até Spartacus, de 1956, quero saber onde foram buscar as inspirações... Juntei 32 balés até agora. Na verdade, fui até Onegin, de John Cranko, de 1965, com música de Tchaikovsky, inspirado no romance em versos de Puchkin, "Eugene Onegin", para o qual o compositor russo fez uma ópera. Muitas vezes nos surpreendemos com o que encontramos. O balé "O Corsário", de 1856, por exemplo, foi inspirado num poema homônimo, de Lorde Byron, de 1814. A novela "Carmen" de Prosper Mérimée, de 1845, inspirou Bizet a escrever uma ópera, em 1875. O balé só foi criado para a mesma música em 1949, mais de 100 anos depois da publicação do livro. Uma das histórias de que mais gosto é a do poema de Mallarmé, que 18 anos depois, se tornou o "Prelúdio para a Tarde de um Fauno", de Debussy, que 18 anos mais tarde, foi coreografado e dançado por Nijinsky, em 1912, em Paris. Um poema que virou música e depois virou balé. O primeiro poema pré-moderno, que se tornou a primeira música impressionista, que gerou o primeiro balé moderno, com um intervalo de 18 anos entre cada um deles. Mallarmé pediu a Debussy que compusesse uma suíte para “A tarde de um fauno”, para ser lido junto com seu poema, porém desistiu do pedido, quando Debussy já criara o Prelúdio, executando-o 18 anos após a publicação do poema. Em 1912, Nijinsky estreou a primeira coreografia moderna para a primeira música clássica impressionista, inspirada num poema pré-moderno, 18 anos depois da 1ª execução da música, assistida por Mallarmé, que, no entanto, não chegou a assistir ao balé. Debussy, porém, estava na plateia do Théatre du Châtelet, onde a coreografia de dez minutos foi ao mesmo tempo aplaudida, vaiada e ovacionada pelo público, que reunia toda a Paris. Entre eles, estava Rodin, que se inspirou para fazer uma estatueta de Nijinsky dançando o Fauno. Essa história eu publiquei em livro, com a edição bilíngue do poema de Mallarmé, "A tarde de um fauno".

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

SONETO 81 

Luís Vaz de Camões


Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;


É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;


É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.


Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


SONNET 81

Luís Vaz de Camões

 

L’amour est un feu qui brûle sans être vu;

C’est une blessure qui fait mal sans sentir;

C’est un contentement mécontent;

C’est une douleur qui se déroule sans blessure;


C’est ne pas vouloir plus que vouloir bien;

C’est solitaire de marcher parmi les gens;

C’est jamais être content d’être content;

C’est gardez qu’on gagne en tout perdant;


C’est être pris par sa volonté;

C’est servir ce qui gagne, le vainqueur;

C’est avoir pour qui nous tue, loyauté.


Mais comment peut sa faveur causer

L’amitié dans les cœurs humains,

Si tellement contraire est le même amour?


Traduction: Thereza Christina Rocque da Motta




sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Amanda Gorman, National Youth Poet Laureate (1998-)

A COLINA QUE SUBIMOS

Amanda Gorman


Quando chega o dia, nos perguntamos, onde haverá luz nesta sombra sem fim?

Tão grande a perda que carregamos.

Tão largo o mar que devemos cruzar.

Enfrentamos a força do monstro.

Aprendemos que o silêncio nem sempre significa paz e as regras e as noções do que é "justo" nem sempre significam justiça.

E, ainda assim, o dia amanhece antes que possamos perceber.

De alguma forma, nós fazemos isso.

De alguma forma, resistimos e testemunhamos uma nação que não está partida, mas apenas incompleta.

Nós, os herdeiros de um país e de uma época em que uma mulher negra e magricela, descendente de escravos e criada por uma mãe solteira, pode sonhar em se tornar presidente, e se descobre recitando para ele.

E, sim, estamos longe de sermos polidos, longe de sermos originais, mas isso não quer dizer que não estejamos nos esforçando para criar uma união perfeita.

Estamos nos esforçando para forjar nossa união com uma finalidade.

Para formar um país comprometido com todas as culturas, cores, personagens e condições do homem.

E, então, erguemos o olhar, não para aquilo que se interpõe entre nós, mas para o que está à nossa frente.

Diminuímos a separação por sabermos colocar o futuro em primeiro lugar, e para isso, devemos, antes de tudo, colocar nossas diferenças de lado.

Baixamos nossos braços para podermos estendê-los aos outros.

Não queremos mal a ninguém, mas, sim, a harmonia entre todos.

Deixem o mundo, senão, quem mais, dizer que isto é verdade.

Que enquanto sofríamos, nós crescíamos.

Que enquanto nos magoavam, sentíamos esperança.

Que mesmo cansados, nós tentávamos.

Estaremos sempre juntos e vitoriosos.

Não porque nunca mais teremos que enfrentar a derrota, mas porque nunca mais semearemos a discórdia.

A Bíblia nos diz que todos se sentarão sob sua própria videira e figueira, e ninguém os afligirá.

Se estamos aqui para aquilo que nos cabe viver, então a vitória não está na espada, mas em todas as pontes que construirmos.

Esta é a promessa da clareira, para subirmos a colina, se tivermos coragem.

Porque ser Americano é mais do que um orgulho que herdamos.

É o passado que carregamos conosco e o transformamos.

Vimos uma força que destruiria nossa nação, em vez de compartilhá-la.

Teria destruído nosso país, se tivessem subjugado a democracia.

E esse desastre quase aconteceu.

Mas, embora possam, por vezes, subjugar a democracia, ela nunca será permanentemente derrotada.

Nesta verdade, nesta fé, nós confiamos, pois enquanto mantivermos os olhos no futuro, a História continuará a nos seguir com o seu olhar.

Esta é a era da justa redenção.

Nós tememos no início.

Não nos sentíamos preparados para herdar um momento tão terrível.

Mas, dentro dele, encontramos a força para escrever um novo capítulo, que nos trouxesse esperança e risos.

Então, enquanto nos perguntávamos como iríamos vencer a catástrofe, agora dizemos, como a catástrofe haveria de nos vencer?

Não marcharemos de volta ao passado, mas para aquilo que virá:

Um país que está ferido, porém inteiro, que é benevolente, mas ousado, feroz e livre.

Não seremos desviados ou interrompidos pela intimidação, pois sabemos que, se a próxima geração herdar nossa inércia e omissão, isso será seu futuro.

Nossos erros se tornarão seus fardos.

Mas uma coisa é certa.

Se unirmos misericórdia e força, e força e direito, então, legaremos o amor como herança e isso mudará o direito de nascimento dos nossos filhos.

Assim, deixemos um país melhor do que aquele que herdamos.

A cada alento que ressoa em meu peito, tornaremos este mundo ferido em um mundo maravilhoso.

Nós nos levantaremos das colinas douradas do Oeste.

Nós nos levantaremos do Nordeste batido pelos ventos, onde nossos antepassados ​​lutaram sua primeira revolução.

Nós nos levantaremos das cidades à margem dos lagos nos estados do Meio Oeste.

Nós nos levantaremos do Sul escaldado pelo sol.

Nós iremos reconstruir, nos reconciliar e nos recuperar.

E em cada canto conhecido de nossa nação e em cada canto que chamamos de país, nosso povo diverso e belo, emergirá maltratado e esplêndido.

Quando chega o dia, saímos da sombra das chamas, sem medo.

O novo amanhecer se eleva no momento em que o libertamos.

Pois sempre haverá luz,

Se tivermos coragem para vê-la.

Se tivermos coragem para sermos essa luz.

 

Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta, no dia da posse de Joe Biden e Kamala Harris, em Washington, D.C., em 20 de janeiro de 2021.


THE HILL WE CLIMB

Amanda Gorman


When day comes, we ask ourselves, where can we find light in this never-ending shade?

The loss we carry.

A sea we must wade.

We braved the belly of the beast.

We’ve learned that quiet isn’t always peace, and the norms and notions of what “just” is isn’t always justice.

And yet the dawn is ours before we knew it.

Somehow we do it.

Somehow we weathered and witnessed a nation that isn’t broken, but simply unfinished.

We, the successors of a country and a time where a skinny black girl descended from slaves and raised by a single mother can dream of becoming president, only to find herself reciting for one.

And, yes, we are far from polished, far from pristine, but that doesn’t mean we are striving to form a union that is perfect.

We are striving to forge our union with purpose.

To compose a country committed to all cultures, colors, characters, and conditions of man.

And so we lift our gaze, not to what stands between us, but what stands before us.

We close the divide because we know to put our future first, we must first put our differences aside.

We lay down our arms so we can reach out our arms to one another.

We seek harm to none and harmony for all.

Let the globe, if nothing else, say this is true.

That even as we grieved, we grew.

That even as we hurt, we hoped.

That even as we tired, we tried.

That we’ll forever be tied together, victorious.

Not because we will never again know defeat, but because we will never again sow division.

Scripture tells us to envision that everyone shall sit under their own vine and fig tree, and no one shall make them afraid.

If we’re to live up to our own time, then victory won’t lie in the blade, but in all the bridges we’ve made.

That is the promise to glade, the hill we climb, if only we dare.

It’s because being American is more than a pride we inherit.

It’s the past we step into and how we repair it.

We’ve seen a force that would shatter our nation, rather than share it.

Would destroy our country if it meant delaying democracy.

And this effort very nearly succeeded.

But while democracy can be periodically delayed, it can never be permanently defeated.

In this truth, in this faith we trust, for while we have our eyes on the future, history has its eyes on us.

This is the era of just redemption.

We feared at its inception.

We did not feel prepared to be the heirs of such a terrifying hour.

But within it we found the power to author a new chapter, to offer hope and laughter to ourselves.

So, while once we asked, how could we possibly prevail over catastrophe, now we assert, how could catastrophe possibly prevail over us?

We will not march back to what was, but move to what shall be:

A country that is bruised but whole, benevolent but bold, fierce and free.

We will not be turned around or interrupted by intimidation because we know our inaction and inertia will be the inheritance of the next generation, become the future.

Our blunders become their burdens.

But one thing is certain.

If we merge mercy with might, and might with right, then love becomes our legacy and change our children’s birthright.

So let us leave behind a country better than the one we were left.

Every breath from my bronze-pounded chest, we will raise this wounded world into a wondrous one.

We will rise from the golden hills of the West.

We will rise from the windswept Northeast where our forefathers first realized revolution.

We will rise from the lake-rimmed cities of the Midwestern states.

We will rise from the sun-baked South.

We will rebuild, reconcile, and recover.

And every known nook of our nation and every corner called our country, our people diverse and beautiful, will emerge battered and beautiful.

When day comes, we step out of the shade of flame and unafraid.

The new dawn balloons as we free it.

For there is always light,

if only we’re brave enough to see it.

If only we’re brave enough to be it.


Amanda Gorman, 22, read her poem on Joe Biden and Kamala Harris' Inauguration Day, on January 20, 2021, at Capitol Hill, in Washington, D.C., USA






quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Alberto Pucheu (1966- )

EVERYTHING I BRING TODAY

Alberto Pucheu


Bring me turmeric, rosemary, and a book of poems 

from those so far from me. Bring me the photos 

that I did not take at Tuol Sleng, in Phnom Penh, Cambodia.

Bring me news of those who live in Paro Taktsang, 

in Bhutan. Are there many tigers growing in that cave? 

How are they? Bring me the singing poets 

from the Amazon to wake me up 

and cherish my sleep every night 

with everything they can tell us. Bring me the calm 

to climb Mount Fuji like that snail 

from Basho and to visit the wooden temples, their bells, and stone gardens.

Bring me the Kilimanjaro, the Himalayas, some village 

in Tibet, where I can hear stories of lives 

unimaginable in a language that I cannot understand at all.

Bring me the Xingu, the indigenous people, their ways of life, the forest, 

rituals. Bring me the Xisto Villages in Portugal, their valleys, 

and many rivers from all over the world, so I can bathe 

in them, bring me an Alaskan landscape, or even 

from Siberia, bring me the Atacama sky, at least 

a piece of the Andes, bring me a dirt road at the foot 

of the Everest, the peak of the Everest, and the vastness 

from the peak of the Everest. Bring me the Greece I haven’t seen, 

but in the poems that I have slowly read, 

and about which I have written so much. In everything you bring me, 

bring me my love, because without it nothing will do.

Bring me – be sure to bring it in your pocket – a rhino 

from Africa as a present, by the way, bring me right away an entire herd 

of rhinos, bring me hippos and the Thai elephants 

that sensed the tsunamis, saving some lives.

Bring me, please, if you can – we are in a haste –, many 

elephants from Thailand: most of us have not foreseen 

the announced horror that would come for us, nor even is responsible 

now for the horror we live in. Bring me, please, 

if they are not going to be missed in this time over there, at least,

an elephant from Thailand for every person here, to live 

as quickly as possible among us, sensing the dangers 

imposed on this country, and taking its inhabitants 

to higher peaks.


Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta 

TUDO QUE TRAGO PARA HOJE

Alberto Pucheu


Tragam-me a cúrcuma, o alecrim e um livro de poemas

daqueles mais distantes de mim. Tragam-me as fotografias

que não tirei na Tuol Sleng, em Phnom Penh, no Camboja.

Tragam-me notícias dos que moram em Paro Taktsang,

no Butão. Há muitos tigres crescendo naquela caverna? 

Como eles estão? Tragam-me os poetas cantadores 

da Amazônia para me despertarem 

e acalentarem a cada noite o meu sono

com tudo o que eles têm para nos contar. Tragam-me a calma

para subir o Monte Fuji como aquele caramujo

de Bashô e para visitar os templos de madeira, seus sinos e jardins de pedra.

Tragam-me o Kilimanjaro, o Himalaia, uma aldeia qualquer

no Tibete, em que eu consiga escutar histórias de vidas

inimagináveis em uma língua da qual eu não entenda nada. 

Tragam-me o Xingu, os indígenas, seus modos de vida, a floresta, 

rituais. Tragam-me as Aldeias de Xisto de Portugal, seus vales 

e muitos rios do mundo inteiro para que eu possa tomar banho

neles, tragam-me uma paisagem do Alasca, ou mesmo 

da Sibéria, tragam-me o céu do Atacama, um pedaço, ao menos, 

da Cordilheira dos Andes, tragam-me uma estrada de terra ao pé 

do Everest, o pico do Everest e a vastidão que se tem 

do pico do Everest. Tragam-me a Grécia que não vi 

senão nos poemas que vagarosamente li

e sobre os quais tanto escrevi. Em tudo que me trouxerem,

tragam-me o meu amor, porque sem ele nada adiantará. 

Tragam-me – não deixem de trazer no bolso – um rinoceronte 

da África de presente, aliás, tragam-me logo uma manada inteira 

de rinocerontes, tragam-me hipopótamos e os elefantes 

tailandeses que pressentiram os tsunamis, salvando algumas vidas.

Tragam-me, por favor, se puderem, – temos pressa –, muitos 

elefantes da Tailândia para cá: a maioria de nós não anteviu 

o horror anunciado que para nós viria nem se responsabiliza 

agora pelo horror que vivemos. Tragam-me, por favor, 

se não forem fazer falta nesses tempos por lá, ao menos, 

um elefante da Tailândia para cada pessoa daqui, para viverem 

o mais rápido possível entre nós, pressentindo os perigos 

impostos a este país e levando seus habitantes 

a cumes mais altos. 



terça-feira, 15 de dezembro de 2020

T. S. Eliot (1888-1965)

DEATH BY WATER

T. S. Eliot


Phlebas, the Phoenician, a fortnight dead,

Forgot the cry of gulls, and the deep sea swell

And the profit and loss.

                                   A current under sea

Picked his bones in whispers. As he rose and fell

He passed the stages of his age and youth

Entering the whirlpool.

                                   Gentile or Jew

O you who turn the wheel and look to windward,

Consider Phlebas, who as once handsome and tall as you. 


in The Waste Land, IV 


MORTE NA ÁGUA

T. S. Eliot


Flebas, o fenício, há quinze dias morto,

Esqueceu o grito das gaivotas, a ressaca

E tudo o que havia ganhado e perdido.

                                       Uma corrente marinha

Dissolveu seus ossos num murmúrio. Enquanto subia e descia,

Lembrou-se de sua velhice e juventude

Ao entrar no redemoinho. 

                                       Gentio ou judeu,

Ó tu que giras o leme e olhas na direção do vento,

Lembra de Flebas, que um dia foi alto e belo como tu. 


in A Terra Devastada, IV

Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta 

 








 

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Percy Bysshe Shelley (1792-1822)

ODE TO THE WEST WIND

Percy Bysshe Shelley

 

V

 

Make me thy lyre, even as the forest is:

What if my leaves are falling like its own!

The tumult of thy mighty harmonies

 

Will take from both a deep, autumnal tone,

Sweet though in sadness. Be thou, Spirit fierce,

My spirit! Be thou me, impetuous one!

 

Drive my dead thoughts over the universe

Like withered leaves to quicken a new birth!

And, by the incantation of this verse,

 

Scatter, as from an unextinguished hearth

Ashes and sparks, my words among mankind!

Be through my lips to unawakened earth

 

The trumpet of a prophecy! O, Wind,

If Winter comes, can Spring be far behind?

 

ODE AO VENTO OESTE

Percy Bysshe Shelley

 

V

 

Faze de mim tua lira, assim como a floresta:

Como se minhas folhas caíssem das árvores!

O tumulto de tuas fortes harmonias

 

Tomará de ambos um profundo tom outonal,

Doce, porém, triste. Sê tu, Espírito feroz,

Meu espírito! Seja eu quem és, ó impetuoso!

 

Leva pelo universo meus mortos pensamentos,

Folhas secas para acelerar um novo nascimento!

E, pelo encantamento deste poema,

 

Espalha, como de um fogo eterno, 

Cinzas e fagulhas, minhas palavras pela humanidade!

Que meus lábios soprem, à terra adormecida,

 

A trombeta de uma profecia! Ó, Vento,

Se chega o Inverno, tardará a Primavera?

 

Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta



sexta-feira, 19 de junho de 2020

Charles Baudelaire (1821-1867)

LES CHATS
Charles Baudelaire

Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment égalemanet, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la maison,
Qui comme eux sont firleux et comme eux sédentaires.

Amis de la science et de la volupté,
Ils cherchent le silence et l'horreur des ténèbres;
L'Érèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.

Ils prennet en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des solitudes,
Qui semblent s'endormir dans um rêve sans fin;

Leurs reins féconds sont pleins d'etincelles magiques
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Étoilent vaguement leurs prunelles mystiques. 

(Spleen et idéal. LXVI. "Les Chats", Les fleurs du mal, 1861)

OS GATOS 
Charles Baudelaire

Amantes fervorosos e sábios austeros
Amam igualmente, em sua idade madura,
Os gatos fortes e gentis, o orgulho da casa,
Que, como eles, são loucos e sedentários.

Amigos da ciência e do prazer,
Procuram o silêncio e o horror das trevas;
Érebo aprisionou-os como mensageiros funéreos,
Pudessem, em cativeiro, dobrar seu orgulho.

Sonham e imaginam os nobres gestos
Das grandes esfinges no fundo de sua solidão,
Como se dormissem um sonho sem fim;

Seus rins fecundos estão cheios de mágicas faíscas
E pepitas de ouro, além do pó da areia fina,
Que cintilam em seus olhos místicos.

(Spleen e ideal. LXVI. “Os gatos”, As flores do mal, 1861)
Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta 

Érebo ou Érebos (em grego: Ἔρεβος, transl.: Érebos, “trevas” ou “escuridão”) na mitologia grega, é a personificação das trevas e da escuridão. Tem seus domínios demarcados por seus mantos escuros e sem vida, predominando sobre as regiões do espaço conhecidas como “Vácuo”, logo acima dos mantos noturnos de sua irmã Nix, a personificação da noite. Érebo era filho de Caos. Juntamente com sua irmã gêmea, Nix, nasceram de cisões assim como se reproduzem os seres unicelulares; a partir de partes de Caos, Érebo e Nix passam a ser os imortais mais velhos do universo, logo depois de seu pai. Érebo desposou Nix, gerando mais dois deuses primordiais: o Éter (a Luz celestial) e Hemera (o Dia). Assim como a irmã, era capaz de tirar a imortalidade dos deuses. Érebo é o próprio universo, senhor dos cosmos e dos buracos negros. Hoje, entretanto, é uma potência esquecida. Está encerrado no Tártaro.