LE SPECTRE DE LA ROSE
Théophile Gautier (1811-1872)
Soulève ta paupière close
Qu’effleure un songe virginal ;
Je suis le spectre d’une rose
Que tu portais hier au bal.
Tu me pris encore emperlée
Des pleurs d’argent de l’arrosoir,
Et parmi la fête étoilée
Tu me promenas tout le soir.
Ô toi qui de ma mort fus cause,
Sans que tu puisses le chasser
Toute la nuit mon spectre rose
A ton chevet viendra danser.
Mais ne crains rien, je ne réclame
Ni messe, ni De Profundis ;
Ce léger parfum est mon âme
Et j’arrive du paradis.
Mon destin fut digne d’envie :
Pour avoir un trépas si beau,
Plus d’un aurait donné sa vie,
Car j’ai ta gorge pour tombeau,
Et sur l’albâtre où je repose
Un poète avec un baiser
Ecrivit : Ci-gît une rose
Que tous les rois vont jalouser.
O ESPECTRO DA ROSA
Théophile Gautier (1811-1872)
Levante tuas pálpebras cerradas
Que sustêm um sonho virginal;
Sou o espectro de uma rosa
Que ontem portaste ao baile.
Apanhaste-me ainda emperlada
Com lágrimas prateadas da rega,
E na festa estrelada,
Passeaste comigo por toda noite.
Ó tu que causaste minha morte,
Sem que pudesses evitá-la,
Toda noite meu espectro rosa
Virá dançar ao lado de tua cama.
Mas não tenhas medo, não reivindico
Nem Missa, nem De Profundis;
Este leve perfume é minha alma
Que trouxe do Paraíso.
Meu destino foi digno de ciúmes:
Por ter uma morte tão bela,
Muitos teriam dado sua vida,
Pois teu colo é minha tumba,
E no alabastro onde repouso,
Um poeta, com um beijo,
Escreveu: "Eis uma rosa
Que todos os reis invejarão".
Tradução: Thereza Rocque da Motta
O ESPECTRO DA ROSA (o balé)
O libreto do balé O Espectro da Rosa foi escrito pelo escritor e poeta francês Jean-Louis Vaudoyer (1883-1963), baseado em um poema homônimo de Théophile Gautier e usando uma peça para piano “Aufforderung zum Tanz” (“Convite para a dança”), de Carl Maria von Weber, de 1819 e orquestrada por Hector Berlioz, em 1841. Estreou em Monte Carlo em 19 de abril de 1911, no Ballets Russes, com coreografia de Michel Fokine, cenário e figurinos de Léon Bakst. Nijinsky dançou A Rosa e Tamara Karsavina, a Jovem. Para surpresa de Diaghilev, o balé foi um grande sucesso. O Espectro tornou-se internacionalmente famoso graças ao salto espetacular de Nijinsky por uma janela ao final do balé.
LES BALLETS RUSSES
Em 1911, Sergei Diaghilev, o produtor do Ballets Russes, esperava apresentar a primeira coreografia de Nijinsky, “A tarde de um fauno”, com música de Debussy, inspirada no poema homônimo de Mallarmé, que só estrearia em fevereiro de 1912. Como ainda não estava pronto para estreia, ele precisava de outro balé para substituí-lo. Em 1910, Jean-Louis Vaudoyer (aos 25 anos) teve a ideia de enviar a sugestão para o Ballets Russes e ao cenógrafo Léon Bakst, inspirado em “O Espectro da Rosa”, poema de Théophile Gautier, e a peça para piano “Aufforderung zum Tanz” (“Convite para a dança”), de Carl Maria von Weber, de 1819, orquestrada por Hector Berlioz em 1841. Diaghilev gostou da ideia. Pensou que poderia facilmente ocupar o lugar do “Fauno”. Resolveu desenvolvê-la imediatamente, pois poderia associá-la ao centenário de nascimento de Gautier.
A MÚSICA DE WEBER
Em 1819, Carl Maria von Weber escreveu uma obra para piano chamada “Aufforderung zum Tanz”. Também escreveu um libreto para esse trabalho sobre um rapaz e uma moça que se conhecem e dançam num baile. A música tranquila na abertura de “Aufforderung” leva a algumas belas (e agitadas) valsas antes de terminar novamente com a música de abertura. Em 1841, Hector Berlioz orquestrou a “Aufforderung”. Essa versão da música foi usada para um curto balé na ópera “Der Freischütz”, de Weber, na Opéra de Paris. A versão de Berlioz para a peça original para piano foi a usada no balé “O espectro da rosa”.
A ESTREIA
“O Espectro” estreou em 19 de abril de 1911 com o Ballets Russes de Diaghilev no Théâtre de Monte Carlo. Tamara Karsavina dançou a Jovem e Nijinsky dançou A Rosa. “O Espectro” foi um “sucesso imediato”. Diaghilev ficou surpreso. Ele achava que O Espectro não valia a pena, mas o pequeno balé tornou-se uma das produções mais amadas do Ballets Russes.
O TRAJE DE NIJINSKY O traje de malha de seda de Nijinsky foi desenhado por Léon Bakst. O traje era coberto de pétalas de rosa de seda que eram costuradas no traje de Nijinsky a cada espetáculo. Depois da apresentação, a camareira retocava as pétalas com seu modelador de cabelo. A maquiagem de Nijinsky era uma parte importante do figurino. Romula de Pulszky, que mais tarde tornou-se sua esposa, escreveu que ele parecia “um inseto celestial, com sobrancelhas que sugeriam um lindo besouro”. O traje de Nijinsky equivalia ao de uma bailarina. Às vezes, as pétalas se soltavam e caíam no palco. Vasili, o assistente de Nijinsky, recolhia as pétalas e vendia-as como souvenirs. Diz-se que construiu uma grande casa chamada “Le Château du Spectre de la Rose” com o que auferiu com a venda das pétalas.
O SALTO DE NIJINSKY O balé tornou-se famoso pelo salto de Nijinsky por uma das grandes janelas ao fundo do palco. A altura do salto, no entanto, era uma ilusão. Nijinsky dava uma corrida de cinco passos do meio do palco e saltava pela janela no sexto passo. A base da janela era muito baixa, dando a impressão de que o salto fosse mais alto do que era. Nos bastidores, quatro homens seguravam Nijinsky ainda no ar, pondo toalhas quentes sobre ele. Ninguém na plateia via Nijinsky tocar o chão, dando a impressão de continuar voando. Essa ilusão era enfatizada pelo maestro que sustentava o penúltimo acorde da orquestra. Ao fazer isso, o salto dava a impressão de ter maior comprimento e altura.
A COREOGRAFIA DE FOKINE Michel Fokine completou a coreografia do balé em três ou quatro ensaios. Mais tarde, escreveu que o balé foi quase um improviso. “O Espectro” é um pas de deux sem a complexa técnica e virtuosismo do século 19, como uma dança moderna, com movimentos e expressividade contínuos. Fokine abandonou o port de bras do balé clássico ao criar essa coreografia para Nijinsky. Em vez disso, usou movimentos curvos dos braços e das mãos, semelhantes às hastes das roseiras. Nijinsky, neste balé, tornou-se um personagem andrógino, mostrando força masculina nas pernas e delicadeza feminina nos braços, o que, segundo Ostwalt, em “Nijinsky: Um salto para a loucura” , “emprestava uma aura feminina ao personagem”.
A SINOPSE A cortina se abre no quarto de uma jovem. Ela entra, usando um chapéu branco e um vestido de baile. Ela está voltando para casa após seu primeiro baile, segurando uma rosa como lembrança daquela noite. Deixa-se cair numa cadeira e adormece. A rosa tomba de seus dedos no chão. O Espírito da Rosa salta pela janela. Ele pousa e aproxima-se da Jovem. Dormindo, ela se levanta e dança com ele. Ele a devolve à cadeira, beija-a, salta pela janela e some na noite. A Jovem desperta e se levanta. Pega a rosa do chão e a beija. A cortina se fecha.
Fazendo pesquisa sobre a origem de todos os balés clássicos desde 1789 (La fille mal gardée), até Spartacus, de 1956, quero saber onde foram buscar as inspirações... Juntei 32 balés até agora. Na verdade, fui até Onegin, de John Cranko, de 1965, com música de Tchaikovsky, inspirado no romance em versos de Puchkin, "Eugene Onegin", para o qual o compositor russo fez uma ópera. Muitas vezes nos surpreendemos com o que encontramos. O balé "O Corsário", de 1856, por exemplo, foi inspirado num poema homônimo, de Lorde Byron, de 1814. A novela "Carmen" de Prosper Mérimée, de 1845, inspirou Bizet a escrever uma ópera, em 1875. O balé só foi criado para a mesma música em 1949, mais de 100 anos depois da publicação do livro. Uma das histórias de que mais gosto é a do poema de Mallarmé, que 18 anos depois, se tornou o "Prelúdio para a Tarde de um Fauno", de Debussy, que 18 anos mais tarde, foi coreografado e dançado por Nijinsky, em 1912, em Paris. Um poema que virou música e depois virou balé. O primeiro poema pré-moderno, que se tornou a primeira música impressionista, que gerou o primeiro balé moderno, com um intervalo de 18 anos entre cada um deles. Mallarmé pediu a Debussy que compusesse uma suíte para “A tarde de um fauno”, para ser lido junto com seu poema, porém desistiu do pedido, quando Debussy já criara o Prelúdio, executando-o 18 anos após a publicação do poema. Em 1912, Nijinsky estreou a primeira coreografia moderna para a primeira música clássica impressionista, inspirada num poema pré-moderno, 18 anos depois da 1ª execução da música, assistida por Mallarmé, que, no entanto, não chegou a assistir ao balé. Debussy, porém, estava na plateia do Théatre du Châtelet, onde a coreografia de dez minutos foi ao mesmo tempo aplaudida, vaiada e ovacionada pelo público, que reunia toda a Paris. Entre eles, estava Rodin, que se inspirou para fazer uma estatueta de Nijinsky dançando o Fauno. Essa história eu publiquei em livro, com a edição bilíngue do poema de Mallarmé, "A tarde de um fauno".
Um comentário:
Ricas informações sobre esta linda obra do ballet
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