quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Louis Aragon (1897-1982)

LES YEUX D'ELSA

Tes yeux sont si profonds qu'en me penchant pour boire
J'ai vu tous les soleils y venir se mirer
S'y jeter à mourir tous les désespérés
Tes yeux sont si profonds que j'y perds la mémoire

À l'ombre des oiseaux c'est l'océan troublé
Puis le beau temps soudain se lève et tes yeux changent
L'été taille la nue au tablier des anges
Le ciel n'est jamais bleu comme il l'est sur les blés

Les vents chassent en vain les chagrins de l'azur
Tes yeux plus clairs que lui lorsqu'une larme y luit
Tes yeux rendent jaloux le ciel d'après la pluie
Le verre n'est jamais si bleu qu'à sa brisure

Mère des Sept douleurs ô lumière mouillée
Sept glaives ont percé le prisme des couleurs
Le jour est plus poignant qui point entre les pleurs
L'iris troué de noir plus bleu d'être endeuillé

Tes yeux dans le malheur ouvrent la double brèche
Par où se reproduit le miracle des Rois
Lorsque le coeur battant ils virent tous les trois
Le manteau de Marie accroché dans la crèche

Une bouche suffit au mois de Mai des mots
Pour toutes les chansons et pour tous les hélas
Trop peu d'un firmament pour des millions d'astres
Il leur fallait tes yeux et leurs secrets gémeaux

L'enfant accaparé par les belles images
Écarquille les siens moins démesurément
Quand tu fais les grands yeux je ne sais si tu mens
On dirait que l'averse ouvre des fleurs sauvages

Cachent-ils des éclairs dans cette lavande où
Des insectes défont leurs amours violentes
Je suis pris au filet des étoiles filantes
Comme un marin qui meurt en mer en plein mois d'août

J'ai retiré ce radium de la pechblende
Et j'ai brûlé mes doigts à ce feu défendu
Ô paradis cent fois retrouvé reperdu
Tes yeux sont mon Pérou ma Golconde mes Indes

Il advint qu'un beau soir l'univers se brisa
Sur des récifs que les naufrageurs enflammèrent
Moi je voyais briller au-dessus de la mer
Les yeux d'Elsa les yeux d'Elsa les yeux d'Elsa 

OS OLHOS DE ELZA 
Louis Aragon

Teus olhos são tão profundos que me inclino para bebê-los
Vi todos os sóis se aproximarem para olhar
Ali lançarem-se à morte todos os desesperados
Teus olhos são tão profundos que neles perco a memória

Sob a sombra dos pássaros o oceano se turva
Depois um repentino bom tempo se faz e teus olhos mudam
O verão corta as nuvens como túnicas de anjos
O céu é mais azul sobre o trigal

Os ventos caçam em vão os matizes do azul
Teus olhos são mais claros porque choram
Teus olhos enciúmam o céu após a chuva
O copo somente é assim azul quando se quebra

Mãe das Sete Dores, ó luz úmida
Sete espadas trespassaram o prisma das cores
O dia é mais agudo entre lágrimas
A íris manchada de negro é mais azul enlutada

Teus olhos tristes abrem-se em par
Por onde se repete o milagre dos reis
Quando os três viram o coração a bater
O manto de Maria sobre o berço

Basta uma boca para dizer as palavras em maio
Para todas as canções e todos os lamentos
Muito pouco céu para milhões de estrelas
Faltam-lhes teus olhos com seus segredos geminados

A criança presa às belas imagens
Ampliou as suas menos desmesuradas
Quando arregalas os olhos, não sei se mentes
Diz-se que a chuva abre as flores silvestres

Escondem-se os relâmpagos nas flores de lavanda onde
Os insetos desfazem-se em amores violentos
Estou preso à teia de estrelas cadentes
Como um marinheiro que morre no mar em pleno mês de agosto

Tirei a irradiação radioativa da pechblenda
E queimei os dedos neste fogo ardente
Ó paraíso cem vezes reencontrado e perdido
Teus olhos são meu Peru, minha Golconda, minha Índia

Uma noite o universo se rompeu
sobre os recifes onde os náufragos se arremessaram
Eu vi o mar brilhar
Os olhos de Elza os olhos de Elza os olhos de Elza

Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta





sábado, 7 de maio de 2011

John Keats (1795-1821)

The day is gone, and all its sweets are gone  
For Fanny Brawne

The day is gone, and all its sweets are gone!
Sweet voice, sweet lips, soft hand, and softer breast,
Warm breath, light whisper, tender semitone,
Bright eyes, accomplished shape, and lang'rous waist!
Faded the flower and all its budded charms,
Faded the sight of beauty from my eyes,
Faded the shape of beauty from my arms,
Faded the voice, warmth, whiteness, paradise!
Vanished unseasonably at shut of eve,
When the dusk holiday — or holinight —
Of fragrant-curtained love begins to weave
The woof of darkness thick, for hid delight;
But, as I've read love's missal through today,
He'll let me sleep, seeing I fast and pray.

O dia se foi, com todas as suas doçuras

Para Fanny Brawne

O dia se foi com todas as suas doçuras!
A doce voz, os doces lábios, a mão suave, e o terno peito,
o cálido hálito, os breves sussurros, a voz em murmúrio,
os olhos que brilham, as formas perfeitas, a lânguida cintura!
Morreu a flor e seu botão de encanto,
apagou-se a beleza dos meus olhos,
afastou-se a sua forma esbelta dos meus braços,
foi-se a voz, o calor, a brancura, o paraíso!
Desapareceu sem razão ao entardecer,
quando na véspera do dia santo — ou da noite sagrada —
a fragrância do amor passa a tecer
a trama tão densa quanto a noite para deliciar-se na sombra;
mas ao ler hoje o cântico do amor,
me deixará dormir para o jejum e a oração.


Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta 



domingo, 30 de janeiro de 2011

Friedrich Hölderlin (1770-1843)

THE AGES OF LIFE
Friedrich Hölderlin

You cities of Euphrates,
You streets at Palmyra,
You forests of pillars in the desert plain,
What are you?
Your crests, as you passed beyond
The bounds of those who breathe,
By smoke of heavenly powers and
By fire were taken away;
But now I sit beneath clouds, in which
Peculiar quiet comes to each one, beneath
A pleasing order of oak-trees, on
The heath where the roe-deer feed, and strange
To me, remote and dead seem
The souls of the blessed.

Tradução de Michael Hamburger, in Selected Poems and Fragments (Penguin, 1998)

AS IDADES DA VIDA
Friedrich Hölderlin

Vós, cidades do Eufrates,
Vós, ruas de Palmira,
Vós, colunas que povoam o deserto,
O que sois hoje?
Vossos cumes, ao cruzar
O limiar daqueles que respiram,
Pela fumaça dos poderes celestiais e
Pelo fogo foram arrebatados;
Mas agora me sento sob as nuvens, que
Uma a uma vão silenciando, sob
A ordem pacífica dos carvalhos, no
Pasto onde o gamo se alimenta, e para mim,
Estranhas, remotas e mortas parecem
As almas dos abençoados.

Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta