terça-feira, 27 de novembro de 2012

Nathaniel Hawthorne (1804-1864)

GO TO THE GRAVE

Go to the grave where friends are laid,
And learn how quickly mortals fade,
Learn how the fairest flower must droop,
Learn how the strongest form must stoop,
Learn that we are but dust and clay,
The short-liv'd creatures of a day.
Yet do not sigh - there is a clime,
Where they will dwell through endless time,
Who here on earth their Maker serve,
And never from his precepts swerve.
The grave to them is but a road,
That leads them to that blest abode.


DESCE AO TÚMULO

Desce ao túmulo onde jazem os amigos,

E descobre quão rápido fenecem os mortais,
Vê como a mais bela flor se inclina,
Aprende como o mais robusto se curva,
Aprende que não passamos de pó e argila,
Breves criaturas de apenas um dia.
Mesmo assim, não suspires – há um lugar,
Onde viverão eternamente,
Quem na terra servir ao seu Criador,
E nunca se desviar de Seus preceitos.
O túmulo para eles é um caminho,
Que os conduz à casa abençoada.

Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta
Meus agradecimentos a Leila Mendes por me trazer o poema.



terça-feira, 1 de maio de 2012

A Fênix e a Pomba (William Shakespeare)


THE PHOENIX AND THE TURTLE

Let the bird of loudest lay,
On the sole Arabian tree,
Herald sad and trumpet be,
To whose sound chaste wings obey.

But thou, shrieking harbinger,
Foul pre-currer of the fiend,
Augur of the fever's end,
To this troop come thou not near.

From this session interdict
Every fowl of tyrant wing,
Save the eagle, feather’d king:
Keep the obsequy so strict.

Let the priest in surplice white,
That defunctive music can,
Be the death-divining swan,
Lest the requiem lack his right.

And thou, treble-dated crow,
That thy sable gender mak’st
With the breath thou giv’st and tak’st,
‘Mongst our mourners shalt thou go.

Here the anthem doth commence:
Love and constancy is dead;
Phoenix and the turtle fled
In a mutual flame from hence.

So they lov’d, as love in twain
Had the essence but in one;
Two distincts, division none:
Number there in love was slain.

Hearts remote, yet not asunder;
Distance, and no space was seen
‘Twixt the turtle and his queen;
But in them it were a wonder.

So between them love did shine,
That the turtle saw his right
Flaming in the phoenix' sight:
Either was the other's mine.

Property was thus appall’d,
That the self was not the same;
Single nature's double name
Neither two nor one was call’d.

Reason, in itself confounded,
Saw division grow together;
To themselves yet either-neither,
Simple were so well compounded

That it cried how true a twain
Seemeth this concordant one!
Love hath reason, reason none
If what parts can so remain.

Whereupon it made this threne
To the phoenix and the dove,
Co-supreme and stars of love;
As chorus to their tragic scene.

THRENOS.

Beauty, truth, and rarity.
Grace in all simplicity,
Here enclos’d in cinders lie.

Death is now the phoenix’ nest;
And the turtle's loyal breast
To eternity doth rest,

Leaving no posterity:--
‘Twas not their infirmity,
It was married chastity.

Truth may seem, but cannot be:
Beauty brag, but 'tis not she;
Truth and beauty buried be.

To this urn let those repair
That are either true or fair;
For these dead birds sigh a prayer.

A FÊNIX E A POMBA

Pouse o pássaro cantante
sobre a solitária árvore da Arábia,
A anunciar e proclamar, triste,
Aos que obedecem às castas asas.

Mas tu, esganiçado mensageiro,
Precursor terrível do demônio,
Augúrio dos estertores,
Destes dois não te aproximes.

Afasta neste momento
Todo pássaro tirânico,
Exceto a águia, rei das aves:
Mantém o acesso restrito.

Deixemos o padre em branca sobrepeliz,
Como faz o cantochão,
Ser o cisne portador da morte,
A menos que o réquiem se subjugue.

E tu, corvo de canto agudo,
Que segues soturno
Como o ar que respiras,
Entre nossos enlutados seguirás.

Aqui começa nossa antífona:
Morreram o amor e a constância:
A Fênix e a Pomba partiram
Numa única flama daqui.

Eles se amavam ternamente,
Aspiravam à mesma essência;
Sendo dois, eram um:
No amor, eram um só.

Corações remotos, mas unidos;
Na distância, não havia espaço
Entre a pomba e sua rainha;
Mas neles, isso era um assombro.

Então, entre os dois o amor brilhava,
Assim a pomba quis
Brilhar diante da fênix:
Qualquer uma que fosse minha.

O dono estarreceu-se,
Que um deles deixou de ser quem era:
O nome duplo de uma mesma natureza,
Não chamou nenhum dos dois.

A razão, confundida,
Viu aumentar a distância;
Para eles, entretanto, seguiam
Simples e bem compostos.

Exclamaram: como dois
Podem parecer um só!
O amor sabe e, ao mesmo tempo,
Não sabe o que os mantém unidos.

Assim, compôs-se este lamento
Para a fênix e a pomba,
Tão supremas e estrelas do amor;
Como coro para seu trágico fim.

LAMENTOS.

Beleza, verdade e raridade.
A graça em toda simplicidade,
Aqui jaz reduzida a cinzas.

A morte acolhe a fênix em seu ninho;
E o peito fiel da pomba
Descansa por todo o sempre,

Sem deixar posteridade: –
Essa não era sua firmeza,
Casaram-se em castidade.

Parece verdade, mas não pode ser:
A beleza proclama, mas ela não é;
A verdade e a beleza são enterradas.

A esta urna, devemos sussurrar
Verdadeira ou justa;
Uma oração a estes pássaros feridos.

Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta 



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Kahlil Gibran (1883-1931)

Vossa alegria é vossa tristeza sem máscaras.
E o mesmo poço de onde emerge vosso riso, muitas vezes encheu-se com vossas lágrimas.
E como seria diferente?
Quanto mais fundo a tristeza cavar em vosso ser, mais alegria podereis conter.
A taça que contém vosso vinho não é a mesma forjada pelo oleiro?
E a lira que embevece vossa alma não foi feita da madeira entalhada à faca?
Quando vos sentirdes alegres, observai vosso coração, e descobrireis que o que vos trouxe a tristeza é o mesmo que vos dá alegria.
E quando vos sentirdes tristes, observai novamente vosso coração, e vereis que, de fato, chorais pelo mesmo motivo que vos deu vosso deleite.
Alguns de vós dizeis: "A alegria supera a tristeza", e outros dizem: "Não, a tristeza é maior."
Porém, eu vos digo que elas são inseparáveis.
Caminham sempre juntas e, enquanto uma se senta à vossa mesa, lembrai que a outra repousa em vossa cama.
Em verdade, estais suspensos como os pratos da balança entre vossa tristeza e vossa alegria.
Somente quando estiverdes vazios estareis em equilíbrio.
Quando o guardião do tesouro vos suspender para pesar o ouro e a prata, então deverão vossa alegria ou vossa tristeza aumentar ou diminuir.

Kahlil Gibran, "Da alegria e da tristeza" in "O Profeta".
Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta



domingo, 29 de janeiro de 2012

Bright star (John Keats)

BRIGHT STAR
John Keats (Londres, 31/10/1795 - Roma, 23/02/1821)

Bright star, would I were steadfast as thou art —
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like Nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors —
No — yet still stedfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft swell and fall,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever — or else swoon to death.
ESPLÊNDIDA ESTRELA
John Keats (1795-1821)

Esplêndida estrela, antes fosse eu tão firme quanto és —
Não apenas em esplendor no alto do céu à noite
Observando, com olhos sempre abertos,
Como o Eremita insone e paciente da Natureza,
As águas agitadas em sua missão fervorosa
De tocar todas as praias terrenas,
Ou vendo a fresca e macia camada
De neve que acaba de cair sobre montanhas e pântanos —
Não — ainda assim firmes, ainda imutáveis,
Aninhada no colo em flor de minha amada,
Para sempre senti-la respirar,
Desperta ainda em sua terna aflição,
Ainda e ainda a ouvir seu leve suspiro,
E assim viver — ou então deixar-me morrer.

Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta