segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Anne Morrow Lindbergh (1906-2001)

THE MAN AND THE CHILD
Anne Morrow Lindbergh

It is the man is us who works;
Who earns his daily bread and anxious scans
The evening skies to know tomorrow’s plans;
It is the man who hurries as he walks;
Finds courage in a crowd; shouts as he talks;
Who shuts his eyes and burrows through his task;
Who doubts his neighbor and who wears a mask;
Who moves in armor and who hides his tears.
It is the man is us who fears.

It is the child in us who plays;
Who sees no happiness beyond today’s;
Who sings for joy; who wonders, and who weeps;
It is the child in us at night who sleeps.
It is the child who silent turns his face,
Open and maskless, naked of defense,
Simple with trust, distilled of all pretense,
To sudden beauty in another’s face –

It is the child in us who loves.

O HOMEM E A CRIANÇA
Anne Morrow Lindbergh

É o homem em nós que trabalha,

que todos os dias ganha seu pão e, ansioso, à noite,
indaga aos céus o que o futuro lhe reserva,
é o homem que corre ao caminhar,
se inflama na multidão, e grita ao falar,
que cerra os olhos e se enterra em seu trabalho,
que duvida dos outros e veste uma máscara,
enverga uma armadura e esconde suas lágrimas.
É o homem em nós que tem medo.

É a criança em nós que brinca,
que todo dia encontra uma felicidade maior,
canta por cantar, é curiosa e chora,
é a criança em nós que, à noite, dorme.
É a criança que, silenciosa, nos olha,
aberta e sem disfarces, inocente,
simples e verdadeira, e não finge
ao ver a beleza em outro rosto –

é a criança em nós que ama.

ALMS
Anne Morrow Lindbergh

Like birds in winter
You fed me;
Knowing the ground was frozen,
Knowing
I should never come to your hand,
Knowing
You did not need my gratitude.

Softly,
Like snow falling on snow,
Softly, so not to frighten me,
Softly,
Your threw your crumbs upon the ground –
And walked away.

ÓBOLOS
Anne Morrow Lindbergh

Como aos pássaros no inverno,
tu me alimentaste;
sabendo que a terra estava gelada,
sabendo que
eu jamais viria comer na tua mão,
sabendo que
não precisavas da minha gratidão.

Suavemente,
como caem os flocos de neve,
suavemente, para eu não me assustar,
suavemente,
atiraste as migalhas no chão –
e te afastaste.

EVEN –
Anne Morrow Lindbergh

Him that I love I wish to be
Free:

Free as the bare top twigs of tree,
Pushed up out of the fight
Of branches, struggling for the light,
Clear of the darkening pall,
Where shadows fall –
Open to the golden eye
Of sky;

Free as a gull
Alone upon a single shaft of air,
Invisible there,
Where
No man can touch,
No shout can reach,
Meet
No stare;

Free as a spear
Of grass,
Lost in the green
Anonymity
Of a thousand seen
Piercing, row on row,
The crust of earth,
With mirth,
Through to the blue,
Sharing the sun
Although
Circled, each one,
In his cool sphere
Of dew.

Him that I love, I wish to be
Free –
Even from me.

ATÉ MESMO –
Anne Morrow Lindbergh

Aquele que amo, desejo que seja
livre:

Livre como um ramo despido
no alto de uma árvore,
alheio à luta entre os galhos
que se agitam em busca da luz.
Livre da escura mortalha,
onde tombam as sombras –
voltado para o olho dourado
do céu.

Livre como a gaivota,
sozinha num sopro de ar,
invisível,
onde
ninguém poderá tocá-la,
nenhuma voz alcançá-la,
ninguém vir
surpreendê-la.

Livre como uma folha
de grama,
em meio ao verde,
anônima,
entre inúmeras iguais,
que se espicham, se alinham,
recobrindo a terra,
felizes,
apontando o azul,
repartindo o sol,
envoltas,
ainda, uma a uma,
em frescas gotas
de orvalho.

Aquele que amo, desejo que seja
livre –
até mesmo de mim.

Do livro “O Unicórnio e outros poemas” (Ibis Libris, 2015)
Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta



Após seu casamento com o aviador Charles Lindbergh em 1929, Anne Morrow Lindbergh acompanhou o marido nos primeiros voos sobre o Atlântico Norte para o lançamento das primeiras linhas aéreas transoceânicas.

A trágica morte de seu primeiro filho forçou-os a mudar para a Europa em busca de segurança e privacidade. Quando a guerra fez com que voltassem aos Estados Unidos, fixaram-se definitivamente na costa de Connecticut, onde viveram de modo reservado, escreveram livros, e criaram seus cinco filhos.

Depois que as crianças cresceram e saíram de casa, o casal fez longas viagens à África e ao Oceano Pacífico em pesquisas ambientais. Viveram por vários anos na ilha de Maui, no Havaí, onde Charles Lindbergh morreu em 1974.

Anne Morrow Lindbergh voltou a morar em Connecticut, onde sempre recebia seus filhos e netos, e continuou a escrever, até sua morte, em 7 de fevereiro de 2001.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Dylan Thomas (1914-1953)

DO NOT GO GENTLE INTO THAT GOOD NIGHT
Dylan Thomas

Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.

NÃO PASSEM MANSAMENTE POR ESTA TERNA NOITE
Dylan Thomas

Não passem mansamente por esta terna noite,
A velhice deveria arder e delirar ao fim do dia;
Revoltem-se, revoltem-se contra a luz que se vai.

Embora os sábios por fim aceitem a escuridão,
Pois suas palavras não prenderam o relâmpago eles
Não passam mansamente por esta terna noite.

Homens bons, que ao longe acenam, lamentam com que brilho
Suas frágeis ações se misturariam às águas verdes da baía,
Revoltem-se, revoltem-se contra a luz que se vai.

Homens selvagens que prenderam e cantaram o sol em seu curso,
E tão tarde aprendem, por ele lamentaram por toda a travessia,
Não passem mansamente por esta terna noite.

Homens sérios, próximos da morte, já cegos,
Seus olhos fulgiriam como meteoros e se alegrariam,
Revoltem-se, revoltem-se contra a luz que se vai.

E tu, meu pai, ali nas tristes alturas,
Maldiga-me, abençoa-me com furiosas lágrimas, eu te imploro.
Não passes mansamente por esta terna noite.
Revolta-te, revolta-te contra a luz que se vai.

Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta