domingo, 27 de março de 2016

T. S. Eliot (1888-1965)

IV. Death by Water
T. S. Eliot

Phlebas, the Phoeniciean, a fortnight dead,
Forgot the cry of gulls, and the deep sea swell
and the profit and loss.
A current under sea
Picked his bones in whispers. As he rose and fell
He passed the stages of his age and youth
Entering the whirlpool.
Gentile or Jew
O you who turn the wheel and look to windward,
Consider Phlebas, who was once handsome and tall as you. 

in "The Waste Land" (1922)

IV. Morte por água
T. S. Eliot

Flebas, o fenício, há quinze dias morto,
esqueceu o grito das gaivotas, a ressaca
e tudo que havia ganhado e perdido.
Uma corrente marinha
dissolveu seus ossos num murmúrio. Enquanto subia e descia,
lembrou-se de sua velhice e juventude
ao entrar no redemoinho.
Gentio ou judeu,
ó tu, que giras o leme e olhas na direção do vento,
lembra de Flebas, que um dia foi belo e alto como tu.

in "A terra devastada" (1922)

Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta 


quinta-feira, 17 de março de 2016

Agatha Christie (1890-1976)

"How women can be so foolish. What do they see in a fellow like that?"
"Who can say? But it is always so. The mauvais sujet - always women are
attracted to him."
"But why?"
Poirot shrugged his shoulders.
"They see something, perhaps, that we do not."
"But what?"
"Danger, possibly... Everyone, my friend, demands a spice of danger in their lives. Some get it vicariously - as in bullfights. Some read about it. Some find it at the cinema. But I am sure of this - too much safety is abhorrent to the nature of a human being.
Men find danger in many ways - women are reduced to finding their danger mostly in affairs of sex. That is why, perhaps, they welcome the hint of the tiger - the sheathed claws - the treacherous spring. The excellent fellow who will make a good and kind husband - they pass him by."


- Como as mulheres podem ser tão tolas? O que elas veem num sujeito desses?
– Como iremos saber? Mas isso acontece. O “mauvais sujet” – as mulheres sempre se sentem atraídas por eles.
– Mas por quê?
Poirot encolheu os ombros.
– Elas veem algo, talvez, que nós não vejamos.
– Mas o quê?
– Possivelmente, o perigo... Todos, meu amigo, buscam um pouco de perigo em suas vidas. Alguns o obtêm através dos outros – como nas touradas. Outros o encontram nos livros. E outros o encontram no cinema. Mas de uma coisa eu tenho certeza – segurança demais contraria a natureza do ser humano. Os homens encontram o perigo de vários modos – as mulheres estão reduzidas a encontrar o perigo principalmente nas paixões. Eis por que, talvez, apreciem as qualidades do tigre – as garras recolhidas – o salto traiçoeiro. O bom sujeito que daria um excelente e dedicado marido – elas o ignoram.  

Cai o pano (Curtain, 1975), de Agatha Christie, capítulo 5, página 23


Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta