segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Rudyard Kipling (1865-1936) - SE

IF—
Rudyard Kipling

If you can keep your head when all about you   
    Are losing theirs and blaming it on you,   
If you can trust yourself when all men doubt you,
    But make allowance for their doubting too;   
If you can wait and not be tired by waiting,
    Or being lied about, don’t deal in lies,
Or being hated, don’t give way to hating,
    And yet don’t look too good, nor talk too wise:

If you can dream—and not make dreams your master;   
    If you can think—and not make thoughts your aim;   
If you can meet with Triumph and Disaster
    And treat those two impostors just the same;   
If you can bear to hear the truth you’ve spoken
    Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
    And stoop and build ’em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
    And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
    And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
    To serve your turn long after they are gone,   
And so hold on when there is nothing in you
    Except the Will which says to them: ‘Hold on!’

If you can talk with crowds and keep your virtue,   
    Or walk with Kings—nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you,
    If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
    With sixty seconds’ worth of distance run,   
Yours is the Earth and everything that’s in it,   
    And—which is more—you’ll be a Man, my son!


SE—
Rudyard Kipling

Se conseguir manter sua mente fria enquanto todos à sua volta   
    Enlouqueceram e o culpam por isso,   
Se puder confiar em si mesmo enquanto todos duvidam,
    Mas lhes permitir que duvidem;   
Se souber esperar sem se cansar,
    Ou se mentirem, não mentir também,
Ou se for odiado, não odiá-los,
     Porém sem se orgulhar, nem se vangloriar por isso:

Se sonhar — sem que os sonhos se transformem em seu mestre:   
    Se pensar — sem que os pensamentos sejam seu alvo;   
Se puder enfrentar a Glória e a Desgraça,
    E tratar esses dois impostores de forma igual;   
Se suportar ouvir a verdade que enunciou
    Ser distorcida como uma cilada para tolos,
Ou ver aquilo a que dedicou por toda a vida se quebrar,
    E tiver de se vergar e reconstruí-lo com as velhas ferramentas:

Se tiver de arrebanhar todos os seus ganhos
    E arriscá-los à sorte jogando uma moeda,
E se perder e tiver de recomeçar tudo novamente,
     Sem nunca se lamentar por ter perdido;
Se puder esforçar o seu coração, nervos e tendões
    Para fazê-lo se recuperar muito depois de tudo ter passado,
E então resistir quando parecer não ter mais nada,
    Exceto a Vontade que lhe diz: “Resista!"

Se conseguir falar ante uma plateia mantendo sua virtude,   
    Ou caminhar ao lado de reis — sem perder o bom senso,
Se os inimigos e os amigos não podem feri-lo,
    Se todos contam com você, mas ninguém cegamente;
Se conseguir perdoar tão rápido
     Quanto uma corrida de sessenta segundos,   
Possuirá a Terra e tudo o que existe nela,  
    E — mais ainda — você será um Homem, meu filho!

Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta


Rudyard Kipling (30/12/1865-18/01/1936) foi um escritor e poeta inglês. É mais conhecido por seus livros "O livro da selva" (1894), "Kim" (1901); seus poemas, como "Gunga Din" (1890) e "If" (1910); e seus muitos contos, entre eles, "O homem que queria ser rei" (1888). Kipling nasceu em Bombaim (hoje Mumbai), na Índia britânica, filho de Alice Kipling (nascida MacDonald) e John Lockwood Kipling. Os pais, que se mudaram para a Índia no início daquele ano, se conheceram dois anos antes, em Rudyard Lake, na área rural de Staffordshire, Inglaterra, e se encantaram tanto com a beleza do lugar que deram esse nome ao seu primeiro filho. Kipling recebeu o Prêmio Nobel em 1907. Faleceu em Londres, e está sepultado na Abadia de Westminster.


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Elizabeth Barrett Browning (1806-1861)

XII

Indeed this very love which is my boast,
And which, when rising up from breast to brow,
Doth crown me with ruby large enow
To draw men's eyes and prove the inner cost,–
This love even, all my worth, to the uttermost,
I should not love withal, unless that thou
Hadst set me an example, shown me how,
When first thine earnest eyes with mine were crossed,
And love called love. And thus, I cannot speak
Of love even, as good thing of my own:
Thy soul hath snatched up mine all faint and weak,
And placed it by thee on a golden throne,–
And that I love (O soul, we must be meek–)
Is by thee only, whom I love alone.

XII

Assim este mesmo amor do qual me orgulho,
E que, ao se elevar do coração à fronte,
Coroa-me com tal rubor iridescente,
Atraindo o olhar dos homens, mostrando-lhes o me custa, –
Este amor simples, que tudo vale para mim até seu âmago,
Eu não deveria amar de todo, a menos que me
Deste o teu exemplo, demonstrando-me como,
Quando teu ávido olhar primeiro cruzou o meu,
E o amor se fez. E, assim, não posso dizer
Do amor simplesmente, que seja algo bom e meu:
Tua alma arrebatou a minha, tão fraca e frágil,
E assentou-a ao teu lado num trono dourado, –
E aquilo que amo (ó, Alma, sejamos humildes–)
Pertence somente a ti, o único que amo. 

Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta


Elizabeth Barrett Browning (1806-1861) casou-se aos 40 anos com Robert Browning (1816-1889), seis anos mais novo que ela, e viveram juntos por 15 anos na Itália, onde ela veio a falecer, em Florença. Eram reconhecidos como o casal poético mais sublime da poesia romântica inglesa.



sábado, 19 de julho de 2014

Walt Whitman (1819-1892)

“I bequeath myself to the dirt to grow from the grass I love,
If you want me again look for me under your boot-soles.
You will hardly know who I am or what I mean,
But I shall be good health to you nevertheless,
And filter and fiber your blood.
Failing to fetch me at first keep encouraged,
Missing me one place search another,
I stop somewhere waiting for you.”

Eu entrego meu corpo à terra para crescer da grama que amo,
Se quiseres me ver novamente, procura-me nas solas dos teus sapatos.
Dificilmente saberás quem sou ou o que represento,
Mas para ti sempre estarei bem de saúde,
E filtrarei e darei força ao teu sangue.
Se não me encontrares logo, não desistas,
Se não me vires em um lugar, procura em outro,
Ficarei parado ali à tua espera.

Walt Whitman, "Song of myself"/ "Canção de mim mesmo"

Tradução: Thereza Rocque da Motta



sábado, 12 de julho de 2014

Pablo Neruda (1904-1973)

SONETO XVII
Pablo Neruda

No te amo como si fueras rosa de sal, topacio 
o flecha de claveles que propagan el fuego: 
te amo como se aman ciertas cosas oscuras, 
secretamente, entre la sombra y el alma.

Te amo como la planta que no florece y lleva 
dentro de sí, escondida, la luz de aquellas flores, 
y gracias a tu amor vive oscuro en mi cuerpo 
el apretado aroma que ascendió de la tierra.

Te amo sin saber cómo, ni cuándo, ni de dónde, 
te amo directamente sin problemas ni orgullo: 
así te amo porque no sé amar de otra manera,

sino así de este modo en que no soy ni eres, 
tan cerca que tu mano sobre mi pecho es mía, 
tan cerca que se cierran tus ojos con mi sueño.


SONETO XVII
Pablo Neruda

Não te amo como se fosses rosa de sal ou topázio, 
ou as setas de cravos que expelem do sol.
Te amo como certas coisas obscuras devem ser amadas,
em segredo, entre a sombra e alma. 

Te amo como um botão que nunca se abre,
mas carrega em si a luz das flores escondidas;
graças ao teu amor, certa fragrância,
que se eleva da terra, vive secretamente em mim.

Te amo sem saber como, ou quando, ou de onde. 
Amo-te de forma direta, sem complexidade ou orgulho, 
então te amo, porque não conheço outro modo senão este: 

onde nem eu nem tu existimos, tão próximos, 
que tua mão em meu peito se confunde com a minha mão, 
tão juntos que teus olhos se fecham quando adormeço. 

In "Cem sonetos de amor" (1959).

Tradução de Thereza Rocque da Motta.
Pablo Neruda (12/07/1904-23/09/1973)



domingo, 30 de março de 2014

Rosália Milsztajn


QUE VOCABULÁRIO PODEREI USAR CONTIGO

Rosália Milsztajn 



Que vocabulário poderei usar contigo

já que és eterno e a palavra efêmera

se dilui no prazer de dizer

e tudo mais se evapora na formosura da forma – mera ilusão

aparência sem reverberação e consciência de ti que amo

e repito:eu te amo para sempre

e assim não resiste ao desgaste

ao embate fixo da palavra que imobiliza

e no silêncio me sinto em comunhão contigo

que vibra em tudo que cala

e que é escuridão ainda



WHAT WORDS CAN I USE WITH YOU

Rosália Milsztajn



What words can I use with you

as eternal as you are and the ephemeral word

dissolves itself in the pleasure of saying

and everything else evaporates in the beauty of form – a mere illusion

appearance without reverberation and consciousness of you who I love

and I repeat: I love you forever

and so it will be worn out

to the fixed fight of the staring word

and in the silence I feel in communion with you

who vibrates in everything that is silent

and still holds darkness within



Versão: Thereza Christina Rocque da Motta



A TARDE É UMA MULHER RECÉM-SAÍDA DO BANHO

Rosália Milsztajn 



A tarde é uma mulher recém-saída do banho

pingos de chuva em sua pele lisa

como as calçadas nuas e escorregadias



escorre um recomeço verde

revelado nesta luminosidade

frescor de folhas estalando

coisa de florescer



eu e a tarde

suspensas no tempo fotográfico

num canto das folhagens

nos lábios vermelhos do sol – um sorriso

vários verdes desfilam como vestidos

o que guarda esta paisagem

um encontro

um amor?



THE AFTERNOON IS A WOMAN JUST COMING OUT OF A BATH

Rosália Milsztajn 



The afternoon is a woman just coming out of a bath

sprinkled with raindrops on her smooth skin

as naked and slippery sidewalks



a green new beginning flows

revealing under this light

a freshness of crispy leaves

a flourishing thing



I and the afternoon

suspended in the photographic time

on a corner full of leaves

in the sun red lips – a smile

several greens parade like dresses

what does that landscape hold

an encounter

love?



Versão: Thereza Christina Rocque da Motta



In “Este recorte”, Patuá, 2014.



Edgar Allan Poe (1809-1849)



A DREAM WITHIN A DREAM
Edgar Allan Poe

Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow –
You are not wrong, who deem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.

I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand –
How few! Yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep – while I weep!
O God! Can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! Can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?

UM SONHO DENTRO DE UM SONHO
Edgar Allan Poe

Deixa que eu beije a tua fronte!
E, ao separar-me de ti agora,
Deixa-me dizê-lo assim –
Não há erro em crer
Que meus dias foram sonho;
Mas se a esperança se foi
Numa noite ou num dia,
Numa visão ou nenhuma,
Foi pouco o que passou?
Tudo que vemos ou somos
É só um sonho dentro de um sonho.

Fico aqui ante o marulho
De uma praia em tormenta,
E seguro nas mãos
Os dourados grãos de areia –
Apenas um punhado! Mas vê
Como escorrem entre meus dedos,
Enquanto choro – enquanto choro!
Ó Deus! Não posso retê-los
Se mais os apertar?
Ó Deus! Não posso salvá-los
Das ondas cruéis?
Tudo que vemos ou somos
É só um sonho dentro de um sonho?


Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta