quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Alberto Pucheu (1966- )

EVERYTHING I BRING TODAY

Alberto Pucheu


Bring me turmeric, rosemary, and a book of poems 

from those so far from me. Bring me the photos 

that I did not take at Tuol Sleng, in Phnom Penh, Cambodia.

Bring me news of those who live in Paro Taktsang, 

in Bhutan. Are there many tigers growing in that cave? 

How are they? Bring me the singing poets 

from the Amazon to wake me up 

and cherish my sleep every night 

with everything they can tell us. Bring me the calm 

to climb Mount Fuji like that snail 

from Basho and to visit the wooden temples, their bells, and stone gardens.

Bring me the Kilimanjaro, the Himalayas, some village 

in Tibet, where I can hear stories of lives 

unimaginable in a language that I cannot understand at all.

Bring me the Xingu, the indigenous people, their ways of life, the forest, 

rituals. Bring me the Xisto Villages in Portugal, their valleys, 

and many rivers from all over the world, so I can bathe 

in them, bring me an Alaskan landscape, or even 

from Siberia, bring me the Atacama sky, at least 

a piece of the Andes, bring me a dirt road at the foot 

of the Everest, the peak of the Everest, and the vastness 

from the peak of the Everest. Bring me the Greece I haven’t seen, 

but in the poems that I have slowly read, 

and about which I have written so much. In everything you bring me, 

bring me my love, because without it nothing will do.

Bring me – be sure to bring it in your pocket – a rhino 

from Africa as a present, by the way, bring me right away an entire herd 

of rhinos, bring me hippos and the Thai elephants 

that sensed the tsunamis, saving some lives.

Bring me, please, if you can – we are in a haste –, many 

elephants from Thailand: most of us have not foreseen 

the announced horror that would come for us, nor even is responsible 

now for the horror we live in. Bring me, please, 

if they are not going to be missed in this time over there, at least,

an elephant from Thailand for every person here, to live 

as quickly as possible among us, sensing the dangers 

imposed on this country, and taking its inhabitants 

to higher peaks.


Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta 

TUDO QUE TRAGO PARA HOJE

Alberto Pucheu


Tragam-me a cúrcuma, o alecrim e um livro de poemas

daqueles mais distantes de mim. Tragam-me as fotografias

que não tirei na Tuol Sleng, em Phnom Penh, no Camboja.

Tragam-me notícias dos que moram em Paro Taktsang,

no Butão. Há muitos tigres crescendo naquela caverna? 

Como eles estão? Tragam-me os poetas cantadores 

da Amazônia para me despertarem 

e acalentarem a cada noite o meu sono

com tudo o que eles têm para nos contar. Tragam-me a calma

para subir o Monte Fuji como aquele caramujo

de Bashô e para visitar os templos de madeira, seus sinos e jardins de pedra.

Tragam-me o Kilimanjaro, o Himalaia, uma aldeia qualquer

no Tibete, em que eu consiga escutar histórias de vidas

inimagináveis em uma língua da qual eu não entenda nada. 

Tragam-me o Xingu, os indígenas, seus modos de vida, a floresta, 

rituais. Tragam-me as Aldeias de Xisto de Portugal, seus vales 

e muitos rios do mundo inteiro para que eu possa tomar banho

neles, tragam-me uma paisagem do Alasca, ou mesmo 

da Sibéria, tragam-me o céu do Atacama, um pedaço, ao menos, 

da Cordilheira dos Andes, tragam-me uma estrada de terra ao pé 

do Everest, o pico do Everest e a vastidão que se tem 

do pico do Everest. Tragam-me a Grécia que não vi 

senão nos poemas que vagarosamente li

e sobre os quais tanto escrevi. Em tudo que me trouxerem,

tragam-me o meu amor, porque sem ele nada adiantará. 

Tragam-me – não deixem de trazer no bolso – um rinoceronte 

da África de presente, aliás, tragam-me logo uma manada inteira 

de rinocerontes, tragam-me hipopótamos e os elefantes 

tailandeses que pressentiram os tsunamis, salvando algumas vidas.

Tragam-me, por favor, se puderem, – temos pressa –, muitos 

elefantes da Tailândia para cá: a maioria de nós não anteviu 

o horror anunciado que para nós viria nem se responsabiliza 

agora pelo horror que vivemos. Tragam-me, por favor, 

se não forem fazer falta nesses tempos por lá, ao menos, 

um elefante da Tailândia para cada pessoa daqui, para viverem 

o mais rápido possível entre nós, pressentindo os perigos 

impostos a este país e levando seus habitantes 

a cumes mais altos. 



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