EVERYTHING I BRING TODAY
Alberto Pucheu
Bring me turmeric, rosemary, and a book of poems
from those so far from me. Bring me the photos
that I did not take at Tuol Sleng, in Phnom Penh, Cambodia.
Bring me news of those who live in Paro Taktsang,
in Bhutan. Are there many tigers growing in that cave?
How are they? Bring me the singing poets
from the Amazon to wake me up
and cherish my sleep every night
with everything they can tell us. Bring me the calm
to climb Mount Fuji like that snail
from Basho and to visit the wooden temples, their bells, and stone gardens.
Bring me the Kilimanjaro, the Himalayas, some village
in Tibet, where I can hear stories of lives
unimaginable in a language that I cannot understand at all.
Bring me the Xingu, the indigenous people, their ways of life, the forest,
rituals. Bring me the Xisto Villages in Portugal, their valleys,
and many rivers from all over the world, so I can bathe
in them, bring me an Alaskan landscape, or even
from Siberia, bring me the Atacama sky, at least
a piece of the Andes, bring me a dirt road at the foot
of the Everest, the peak of the Everest, and the vastness
from the peak of the Everest. Bring me the Greece I haven’t seen,
but in the poems that I have slowly read,
and about which I have written so much. In everything you bring me,
bring me my love, because without it nothing will do.
Bring me – be sure to bring it in your pocket – a rhino
from Africa as a present, by the way, bring me right away an entire herd
of rhinos, bring me hippos and the Thai elephants
that sensed the tsunamis, saving some lives.
Bring me, please, if you can – we are in a haste –, many
elephants from Thailand: most of us have not foreseen
the announced horror that would come for us, nor even is responsible
now for the horror we live in. Bring me, please,
if they are not going to be missed in this time over there, at least,
an elephant from Thailand for every person here, to live
as quickly as possible among us, sensing the dangers
imposed on this country, and taking its inhabitants
to higher peaks.
Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta
TUDO QUE TRAGO PARA HOJE
Alberto Pucheu
Tragam-me a cúrcuma, o alecrim e um livro de poemas
daqueles mais distantes de mim. Tragam-me as fotografias
que não tirei na Tuol Sleng, em Phnom Penh, no Camboja.
Tragam-me notícias dos que moram em Paro Taktsang,
no Butão. Há muitos tigres crescendo naquela caverna?
Como eles estão? Tragam-me os poetas cantadores
da Amazônia para me despertarem
e acalentarem a cada noite o meu sono
com tudo o que eles têm para nos contar. Tragam-me a calma
para subir o Monte Fuji como aquele caramujo
de Bashô e para visitar os templos de madeira, seus sinos e jardins de pedra.
Tragam-me o Kilimanjaro, o Himalaia, uma aldeia qualquer
no Tibete, em que eu consiga escutar histórias de vidas
inimagináveis em uma língua da qual eu não entenda nada.
Tragam-me o Xingu, os indígenas, seus modos de vida, a floresta,
rituais. Tragam-me as Aldeias de Xisto de Portugal, seus vales
e muitos rios do mundo inteiro para que eu possa tomar banho
neles, tragam-me uma paisagem do Alasca, ou mesmo
da Sibéria, tragam-me o céu do Atacama, um pedaço, ao menos,
da Cordilheira dos Andes, tragam-me uma estrada de terra ao pé
do Everest, o pico do Everest e a vastidão que se tem
do pico do Everest. Tragam-me a Grécia que não vi
senão nos poemas que vagarosamente li
e sobre os quais tanto escrevi. Em tudo que me trouxerem,
tragam-me o meu amor, porque sem ele nada adiantará.
Tragam-me – não deixem de trazer no bolso – um rinoceronte
da África de presente, aliás, tragam-me logo uma manada inteira
de rinocerontes, tragam-me hipopótamos e os elefantes
tailandeses que pressentiram os tsunamis, salvando algumas vidas.
Tragam-me, por favor, se puderem, – temos pressa –, muitos
elefantes da Tailândia para cá: a maioria de nós não anteviu
o horror anunciado que para nós viria nem se responsabiliza
agora pelo horror que vivemos. Tragam-me, por favor,
se não forem fazer falta nesses tempos por lá, ao menos,
um elefante da Tailândia para cada pessoa daqui, para viverem
o mais rápido possível entre nós, pressentindo os perigos
impostos a este país e levando seus habitantes
a cumes mais altos.
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