terça-feira, 16 de agosto de 2016

William Shakespeare (1564-1616) Hamlet

Act 3, Scene 1

Enter Hamlet

Hamlet
To be or not to be - that is the question:
Whether 'tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune,
Or to take arms against a sea of troubles,
And, by opposing, end them. To die, to sleep -
No more-and by a sleep to say we end
The heartache and the thousand natural shocks
That flesh is heir to-'tis a consummation
Devoutly to be wished. To die, to sleep –
To sleep, perchance to dream. Aye, there's the rub,
For in that sleep of death what dreams may come,
When we have shuffled off this mortal coil,
Must give us pause. There's the respect
That makes calamity of so long life.
For who would bear the whips and scorns of time,
Th' oppressor's wrong, the proud man's contumely, [F: poor]
The pangs of despised love, the law’s delay, [F: disprized]
The insolence of office, and the spurns
That patient merit of the unworthy takes,
When he himself might his quietus make
With a bare bodkin? Who would fardels bear, [F: these Fardels]
To grunt and sweat under a weary life,
But that the dread of something after death,
The undiscovered country from whose bourn
No traveler returns, puzzles the will
And makes us rather bear those ills we have
Than fly to others that we know not of?
Thus conscience does make cowards of us all,
And thus the native hue of resolution
Is sicklied o'er with the pale cast of thought,
And enterprises of great pitch and moment, [F: pith]
With this regard their currents turn awry, [F: away]
And lose the name of action. – Soft you now,
The fair Ophelia. – Nymph, in thy orisons
Be all my sins remembered

Ato 3, Cena 1

Entra Hamlet

Hamlet
Ser ou não ser – eis a questão! 
Será mais nobre sofrer em pensamento 
os golpes e as flechadas da má sorte, 
ou debater-se em um mar de tormentas, 
e, ao combater, dar-lhes um fim? Morrer, dormir – 
não mais – e, por dormir, dizem pormos um fim
à dor e a mil doenças que atacam
nosso corpo – é o fim
que devemos ansiar. Morrer, dormir – 
dormir, talvez sonhar. Ah, eis o obstáculo, 
pois neste sono de morte que os sonhos trazem
quando deixamos esta ronda mortal, 
dando-nos trégua. Este é o motivo
que torna a vida uma calamidade tão longa. 
Quem suportaria o chicote e o desdém do tempo,
o mal do opressor, a empáfia do orgulhoso, 
a dor do desamor, o tardar da lei, 
a insolência do ofício, e o desprezo 
dado ao mérito pelos insolentes.
quando ele mesmo poderia deixar a vida
com um mero punhal? Quem suportaria o fardo, 
o sofrimento e o suor de sua triste vida, 
senão pelo medo de algo após a morte, 
a terra desconhecida de onde os aventureiros
nunca retornam, que confunde a nossa mente
e faz-nos tolerar os males que vivemos
em vez de ir ao encontro do desconhecido?
Portanto, refletir nos torna covardes, 
e assim as cores da decisão
são empalidecidas pelo mero pensamento.
E momentos de grandes gestos inspirados, 
se ponderados, perdem a força,
e enfraquecem a ação. – Silêncio, agora! 
Aproxima-se a bela Ofélia. 
– Ninfa, ao rezar, 
lembra-te de todos os meus pecados.


Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta 


sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Khalil Gibran (1883-1931)

ON MARRIAGE
Khalil Gibran

When Almitra spoke again and said, "And what of Marriage, master?"
And he answered saying:
You were born together, and together you shall be forevermore.
You shall be together when white wings of death scatter your days.
Aye, you shall be together even in the silent memory of God.
But let there be spaces in your togetherness,
And let the winds of the heavens dance between you.
Love one another but make not a bond of love:
Let it rather be a moving sea between the shores of your souls.
Fill each other's cup but drink not from one cup.
Give one another of your bread but eat not from the same loaf.
Sing and dance together and be joyous, but let each one of you be alone,
Even as the strings of a lute are alone though they quiver with the same music.
Give your hearts, but not into each other's keeping.
For only the hand of Life can contain your hearts.
And stand together, yet not too near together:
For the pillars of the temple stand apart,
And the oak tree and the cypress grow not in each other's shadow.

In "The Prophet"

SOBRE O CASAMENTO
Khalil Gibran

Então Almitra falou novamente e perguntou:
- O que dizeis sobre o casamento, Mestre?
E ele respondeu:
- Nascestes juntos e juntos permanecereis por todo o sempre.
Juntos estareis quando as brancas asas da morte extinguirem vossos dias.
Sim, juntos estareis até mesmo na memória silenciosa de Deus.
Mas que haja espaços em vossa união
E as asas do céu dancem entre vós.
Amai um ao outro, mas não façais do amor uma grilhão;
Que antes haja um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
Enchei a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.
Dividi o vosso pão, mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres,
Mas deixai cada um de vós estar só,
Assim como as cordas do alaúde são separadas, no entanto, vibram na mesma música.
Dai o vosso coração, mas não o confieis à guarda um do outro.
Pois somente a mão da Vida pode conter o vosso coração.
E vivei juntos, mas não fiqueis demasiadamente juntos:
Pois as colunas do templo se erguem separadamente,
E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro.
In "O Profeta"
Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta 


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Bayard Tonelli

BORBOLETAS TAMBÉM SANGRAM
Bayard Tonelli

Borboletas também sangram
Aos suaves talhos de
Ágeis e ásperas plumas
Deslizando ao comando
De artistas celestiais
Na busca cruel e incessante
Da beleza plena

Borboletas também sangram e sofrem
Nos campos de batalhas
Nos lares escritórios
E ao se verem preteridas
Postas de lado por exuberantes
Lagartas oportunistas
Ao tomarem o centro do jardim

Borboletas também sangram, sofrem e choram...
Mágoas perdidas em desencantos
De dias fúteis
Voam em rotas feridas
No atrito de violentas paixões marginais
E se esvaem em atmosfera densa e poluída
Onde entraram inocentes e desprevenidas

Borboletas também sangram, sofrem, choram e se desesperam...
A chicotadas de línguas ferinas a tentar
Diminuir seu esplendor e leveza
E desaparecem em lembranças varridas
Ao canto mais escuro do quarto
Embaixo do velho tapete persa
Puído por desinformadas e vorazes traças

Borboletas sangram
Sofrem choram
E se desesperam

Mas nunca desistem de voar...

Março 2008
In Dzi’in’verso, Ibis Libris, 2009

BUTTERFLIES ALSO BLEED
Bayard Tonelli

Butterflies also bleed
At sweet strokes
Of agile and harsh feathers
Slipping at the command
Of heavenly artists
In cruel and relentless search
Of full beauty

Butterflies also bleed and suffer
In the battlefields
At home and at the offices
And when neglected
Put aside by exuberant
Opportunistic caterpillars
Taking the core of the garden

Butterflies also bleed, suffer and cry...
Heartaches lost in disenchantments
Of frivolous days
Fly in wounded routes
In the friction of violent marginal passions
And vanish in the dense and polluted atmosphere
Where they had entered innocent and unsuspecting

Butterflies also bleed, suffer, cry and despair...
The whipping of sharp tongues trying
To reduce their splendor and lightness
And they disappear in swept-away memories
At the darkest corner of the room
Under the Old Persian carpet
Threadbare by uninformed and voracious moths

Butterflies bleed
Suffer, cry
And despair

But will never give up flying...

March, 2008

Translation: Thereza Christina Rocque da Motta 



Gabriela Mistral (1889-1957)

Canção dos que querem olvidar
Gabriela Mistral

Ao costado do barco,
Meu coração está pregado,
Ao costado do barco
De espumas acobertado.

Lava-o, mar, com sal eterno,
Lava-o, mar, lava-o, mar,
Que a Terra foi feita para a luta,
E tu feito para consolar.

Sobre a proa poderosa,
Meu coração está cravado.
Vê, barco, que levas
Teu vértice ensanguentado.

Lava-o, mar, com sal tremendo,
Lava-o, mar, lava-o, mar.
Ou parta-o na proa
Que não o quero mais levar.

Sobre este barco,
Minha vida está derramada.
Muda-a, mar, nos cem dias
Em que ela te desposará.

Muda-a, mar, com teus cem ventos.
Lava-a, mar, lava-a, mar,
Pois outros te pedem ouro e pérolas,
E eu te peço olvidar.

Tradução de Thereza Rocque da Motta



Gabriela Mistral foi a primeira autora latino-americana a receber o Prêmio Nobel em 1945, reconhecendo o alcance e a importância da poesia desta escritora chilena. Comemoramos 70 anos desse prêmio a uma mulher que não só lecionou como representou a cultura por onde passou. Em novembro de 1945, ela morava em Petrópolis como adida cultural do Chile, quando recebeu o telegrama avisando-a da concessão do Nobel. Em 10 de dezembro do mesmo ano, houve a cerimônia de entrega em Estocolmo. Seu prêmio foi o primeiro de literatura entregue após a Segunda Guerra Mundial, período em que o Nobel não foi concedido devido à ocupação nazista na Suécia e a proibição de se entregar esse prêmio a alemães. Gabriela Mistral era o pseudônimo de Lucila Godoy, em homenagem a dois poetas de sua predileção, Gabrielle D'Annunzio e Frédéric Mistral. Faleceu em Nova York, em 1957.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Mano Melo

NADA VAI APAGAR MEU SORRISO
Mano Melo

Podem ameaçar com as bombas e morteiros
da Marinha americana,
podem roubar meu dinheiro
e chamar os hômes pra me levar em cana.
Nem que as vacas tussam e as porcas torçam seus rabos,
nem que eu seja atacado por mil cachorros brabos,
mesmo que me acusem de tudo que é heresia
e arranquem meu dente de siso
sem anestesia,
nada vai apagar meu sorriso.

Podem ameaçar com o Armageddon
e as trombetas do Juízo Final.
Podem pintar o mar de marrom
e botar dez mil crianças assaltando no sinal,
podem parar o mundo e apagar a luz,
abrir a caixa dos pregos e me pregar na cruz,
podem rodar a baiana, podem soltar a franga,
bordar tudo mais feio que o cão chupando manga,
destruir a ferro e fogo os frutos do paraíso,
nada vai apagar meu sorriso.

Podem sujar a atmosfera
até fazer doloroso o ato de respirar.
Podem abrir a jaula e soltar a besta-fera
com sua boca horrenda para me devorar,
perfurar meus olhos com setas envenenadas
até que fiquem cegos,
me fechar no escuro junto com morcegos,
ratazanas e baratas aladas,
sem nenhum sinal ou prévio aviso,
nada vai apagar meu sorriso.

Entre os campos de batalha dessa guerra infame,
busco trocar amor com quem também me ame.
E sei que a maioria das pessoas são pessoas decentes,
gente do bem trabalhando para criar filhos
e passar sua herança de conhecimentos.
Por isso, quando o trem parece correr fora dos trilhos
e o dragão ameaça cuspir fogo pelas ventas,
eu sei que tudo na vida tem uma explicação
e que existem razões que são estranhas até à própria razão.
Não importa as teias que a aranha teça,
a gente tem que se cuidar pra não virar presa.
Se a aranha tá a fim de te jantar,
você não pode permanecer passivo.
Não apenas navegar, viver também é preciso.
Eu fico mais forte quando penso nisso:
nada vai apagar meu sorriso.

NOTHING WILL ERASE MY SMILE
Mano Melo

They can threaten me with bombs and mortars of the US Navy.
They can steal my money and call the cops to put me in jail.
No matter if the cows cough or the pigs twist their tails.
Even if I’m attacked by a thousand angry hounds
Even if they accuse me of every other heresy
And pluck my wisdom tooth with no anesthesia,
Nothing will erase my smile.

They may threaten me with the Armageddon
And the trumpets of Judgment Day.
They can paint the sea of brown
And put ten thousand kids mugging at the crossings.
They can stop the world and shut the light down
Open a box of nails and nail me to a cross.
They can go crazy or wild
Paint all uglier than a dog sucking mango
Destroy with iron and fire the fruits of Paradise,
Nothing will erase my smile.

They can foul the atmosphere
Making it painful to breathe.
They can open the cage and release the beast
With its ugly mouth to devour me
Pierce my eyes with poisoned arrows
Until I turn blind
Shut me in the dark along with bats,
Rats and winged cockroaches
With no sign or prior notice,
Nothing will erase my smile.

Between the battlefields of this infamous war,
I seek to love someone who also loves me.
And I know most people are decent,
Nice people working to raise their children
And pass down their heritage of knowledge.
So when the train seems to run off the rails
And the dragon threatens to breathe out fire,
I know everything in life has a reason,
And some reasons are alien to reason itself.
No matter the webs a spider can weave,
Be careful not to become its prey.
If the spider wants to eat you,
You can’t just sit still.
It’s not just sailing; living is also a must.
I’m stronger when I think about this:
Nothing will erase my smile.

Translation by Thereza Christina Rocque da Motta 



domingo, 27 de março de 2016

T. S. Eliot (1888-1965)

IV. Death by Water
T. S. Eliot

Phlebas, the Phoeniciean, a fortnight dead,
Forgot the cry of gulls, and the deep sea swell
and the profit and loss.
A current under sea
Picked his bones in whispers. As he rose and fell
He passed the stages of his age and youth
Entering the whirlpool.
Gentile or Jew
O you who turn the wheel and look to windward,
Consider Phlebas, who was once handsome and tall as you. 

in "The Waste Land" (1922)

IV. Morte por água
T. S. Eliot

Flebas, o fenício, há quinze dias morto,
esqueceu o grito das gaivotas, a ressaca
e tudo que havia ganhado e perdido.
Uma corrente marinha
dissolveu seus ossos num murmúrio. Enquanto subia e descia,
lembrou-se de sua velhice e juventude
ao entrar no redemoinho.
Gentio ou judeu,
ó tu, que giras o leme e olhas na direção do vento,
lembra de Flebas, que um dia foi belo e alto como tu.

in "A terra devastada" (1922)

Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta 


quinta-feira, 17 de março de 2016

Agatha Christie (1890-1976)

"How women can be so foolish. What do they see in a fellow like that?"
"Who can say? But it is always so. The mauvais sujet - always women are
attracted to him."
"But why?"
Poirot shrugged his shoulders.
"They see something, perhaps, that we do not."
"But what?"
"Danger, possibly... Everyone, my friend, demands a spice of danger in their lives. Some get it vicariously - as in bullfights. Some read about it. Some find it at the cinema. But I am sure of this - too much safety is abhorrent to the nature of a human being.
Men find danger in many ways - women are reduced to finding their danger mostly in affairs of sex. That is why, perhaps, they welcome the hint of the tiger - the sheathed claws - the treacherous spring. The excellent fellow who will make a good and kind husband - they pass him by."


- Como as mulheres podem ser tão tolas? O que elas veem num sujeito desses?
– Como iremos saber? Mas isso acontece. O “mauvais sujet” – as mulheres sempre se sentem atraídas por eles.
– Mas por quê?
Poirot encolheu os ombros.
– Elas veem algo, talvez, que nós não vejamos.
– Mas o quê?
– Possivelmente, o perigo... Todos, meu amigo, buscam um pouco de perigo em suas vidas. Alguns o obtêm através dos outros – como nas touradas. Outros o encontram nos livros. E outros o encontram no cinema. Mas de uma coisa eu tenho certeza – segurança demais contraria a natureza do ser humano. Os homens encontram o perigo de vários modos – as mulheres estão reduzidas a encontrar o perigo principalmente nas paixões. Eis por que, talvez, apreciem as qualidades do tigre – as garras recolhidas – o salto traiçoeiro. O bom sujeito que daria um excelente e dedicado marido – elas o ignoram.  

Cai o pano (Curtain, 1975), de Agatha Christie, capítulo 5, página 23


Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta 


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

William Shakespeare (1564-1616) Marco Antonio

Mark Antony


Friends, Romans, countrymen, lend me your ears; 
I come to bury Caesar, not to praise him. 
The evil that men do lives after them; 
The good is oft interred with their bones; 
So let it be with Caesar. The noble Brutus 
Hath told you Caesar was ambitious: 
If it were so, it was a grievous fault, 
And grievously hath Caesar answer'd it. 
Here, under leave of Brutus and the rest - 
For Brutus is an honourable man; 
So are they all, all honourable men - 
Come I to speak in Caesar's funeral. 
He was my friend, faithful and just to me: 
But Brutus says he was ambitious; 
And Brutus is an honourable man. 
He hath brought many captives home to Rome 
Whose ransoms did the general coffers fill: 
Did this in Caesar seem ambitious? 
When that the poor have cried, Caesar hath wept: 
Ambition should be made of sterner stuff: 
Yet Brutus says he was ambitious; 
And Brutus is an honourable man. 
You all did see that on the Lupercal 
I thrice presented him a kingly crown, 
Which he did thrice refuse: was this ambition? 
Yet Brutus says he was ambitious; 
And, sure, he is an honourable man. 
I speak not to disprove what Brutus spoke, 
But here I am to speak what I do know. 
You all did love him once, not without cause: 
What cause withholds you then, to mourn for him? 
O judgment! thou art fled to brutish beasts, 
And men have lost their reason. Bear with me; 
My heart is in the coffin there with Caesar, 
And I must pause till it come back to me.


In "Julius Cesar", Act III, Scene 2

Marco Antônio

Amigos, romanos, cidadãos, dai-me vossa atenção!
Eu vim enterrar Cesar, não elogiá-lo.
O mal de cada homem vive após sua morte.
O bem, em geral, é enterrado com seus ossos.
Que seja assim com Cesar. O nobre Brutus
Disse-lhes que Cesar era ambicioso:
Se for verdade, era uma grave falta,
E gravemente Cesar respondeu a ela.
Aqui, com a permissão de Brutus e de todos –
Pois Brutus é um homem honrado.
Venho falar no enterro de Cesar.
Ele era meu amigo, fiel e justo para comigo:
Mas Brutus diz que ele era ambicioso,
E Brutus é um homem honrado.
Ele trouxe muitos cativos para Roma,
Cujos resgates encheram os cofres do general:
Isso fazia Cesar parecer ambicioso?
Quando os pobres choraram, Cesar chorou:
A ambição deveria ser feita de matéria mais dura:
Mesmo assim Brutus diz que ele era ambicioso,
E Brutus é um homem honrado.
Todos viram isso na Lupercália.
Por três vezes eu quis dar-lhe a coroa,
Que ele três vezes recusou: isso foi ambição?
Mesmo assim Brutus diz ele era ambicioso,
E, certamente, ele é um homem honrado.
Eu não desaprovo o que Brutus disse,
Mas estou aqui para dizer o que sei.
Todos o amaram um dia, e com razão:
O que vos impede, então, de prantear por ele?
Ó julgamento! Escapas das bestas selvagens,
E os homens perderam a razão. Ouvi-me,
Meu coração jaz no caixão junto a Cesar,
E devo esperar até que ele retorne a mim.

In “Julio Cesar”, Ato III, Cena 2