segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Gabriela Mistral (1889-1957)

Canção dos que querem olvidar
Gabriela Mistral

Ao costado do barco,
Meu coração está pregado,
Ao costado do barco
De espumas acobertado.

Lava-o, mar, com sal eterno,
Lava-o, mar, lava-o, mar,
Que a Terra foi feita para a luta,
E tu feito para consolar.

Sobre a proa poderosa,
Meu coração está cravado.
Vê, barco, que levas
Teu vértice ensanguentado.

Lava-o, mar, com sal tremendo,
Lava-o, mar, lava-o, mar.
Ou parta-o na proa
Que não o quero mais levar.

Sobre este barco,
Minha vida está derramada.
Muda-a, mar, nos cem dias
Em que ela te desposará.

Muda-a, mar, com teus cem ventos.
Lava-a, mar, lava-a, mar,
Pois outros te pedem ouro e pérolas,
E eu te peço olvidar.

Tradução de Thereza Rocque da Motta



Gabriela Mistral foi a primeira autora latino-americana a receber o Prêmio Nobel em 1945, reconhecendo o alcance e a importância da poesia desta escritora chilena. Comemoramos 70 anos desse prêmio a uma mulher que não só lecionou como representou a cultura por onde passou. Em novembro de 1945, ela morava em Petrópolis como adida cultural do Chile, quando recebeu o telegrama avisando-a da concessão do Nobel. Em 10 de dezembro do mesmo ano, houve a cerimônia de entrega em Estocolmo. Seu prêmio foi o primeiro de literatura entregue após a Segunda Guerra Mundial, período em que o Nobel não foi concedido devido à ocupação nazista na Suécia e a proibição de se entregar esse prêmio a alemães. Gabriela Mistral era o pseudônimo de Lucila Godoy, em homenagem a dois poetas de sua predileção, Gabrielle D'Annunzio e Frédéric Mistral. Faleceu em Nova York, em 1957.

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