quinta-feira, 18 de junho de 2015

Robert Desnos (1900-1945)

JAMAIS D’AUTRE QUE TOI
Robert Desnos

Jamais d’autre que toi en dépit des étoiles et des solitudes
En dépit des mutilations d’arbre à la tombée de la nuit
Jamais d’autre que toi ne poursuivra son chemin qui est le mien
Plus tu t’éloignes et plus ton ombre s’agrandit
Jamais d’autre que toi ne saluera la mer à l’aube quand
Fatigué d’errer moi sorti des forêts ténébreuses et
Des buissons d’orties je marcherai vers l’écume
Jamais d’autre que toi ne posera sa main sur mon front
Et mes yeux
Jamais d’autre que toi et je nie le mensonge et l’infidélité
Ce navire à l’ancre tu peux couper sa corde
Jamais d’autre que toi
L’aigle prisonnier dans une cage ronge lentement les barreaux
De cuivre vert-de-grisés
Quelle évasion!
C’est le dimanche marqué par le chant des rossignols
Dans les bois d’un vert tendre l’ennui des petites
Filles en présence d’une cage où s’agite un serein
Tandis que dans la rue solitaire le soleil lentement
Déplace sa ligne mince sur le trottoir chaud
Nous passerons d’autres lignes
Jamais jamais d’autre que toi
Et moi seul seul comme le lierre fané des jardins
De banlieue seul comme le verre
Et toi jamais d’autre que toi.


JAMAIS OUTRO SENÃO TU
Robert Desnos

Jamais outro senão tu apesar das estrelas e das solidões
Apesar das mutilações das árvores ao cair da noite
Jamais outro senão tu seguirás um caminho como o meu
Quanto mais te afastas mais tua sombra cresce
Jamais outro senão tu saudarás o mar ao amanhecer quando
Cansado de vagar eu saído das florestas tenebrosas e
Dos arbustos de urtiga caminharei até a escória
Jamais outro senão tu pousarás a mão sobre minha fronte
E sobre meus olhos
Jamais outro senão tu e eu nego a mentira e a infidelidade
Deste navio ancorado poderás cortar a corda
Jamais outro senão tu
A águia prisioneira numa gaiola rói lentamente as barras
De cobre verde-escuro
Que fuga!
No domingo marcado pelo canto dos rouxinóis
Dentro da mata verde branda o tédio das
Meninas diante de uma gaiola onde se agita sereno
Enquanto na rua solitária o sol lentamente
Move sua linha fina no pavimento quente
Passaremos outras linhas
Jamais jamais outro senão tu
E eu sozinho sozinho como a hera desbotada dos jardins
Dos subúrbios sozinho como um copo
E tu jamais outro senão tu.


Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta 

Robert Desnos (1928), por Man Ray

W. B. Yeats (1865-1939)


SHE WISHES FOR THE CLOTHS OF HEAVEN
W. B. Yeats

Had I the heavens’ embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.

ELA DESEJA OS TECIDOS DO CÉU
W. B. Yeats

Se fossem meus os tecidos bordados do céu,
Ornados com raios de ouro e prata,
Os azuis, negros e pálidos tecidos
Da noite, tanto da luz quanto da meia-luz,
Eu estenderia sob teus pés.
Mas, eu, sendo pobre, tenho apenas meus sonhos.
Estendi meus sonhos sob teus pés.
Pisa de leve, pois caminhas sobre meus sonhos.

Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta
In “The Wind Among the Reeds”, 1899.

W.B. Yeats (Prêmio Nobel de Literatura de 1923)

sábado, 13 de junho de 2015

Rûmî (1207-1273)

Um gosto da manhã

A adaga do tempo desliza da bainha,
Como um peixe dentro d'água.
Estar cada vez mais perto é o desejo 
Do corpo. Não queiram unir-se!
Há uma proximidade maior. Por que 
Deus iria querer outro Deus?
Apaixone-se de uma forma que o torne
Livre. O amor é a luz da alma,
O gosto da manhã, não há eu, não há 
Nós, nem ser. Essas palavras
São a fumaça que sobe da fogueira ao
Absolver seus defeitos, como olhos em silêncio,
Lágrimas, o rosto. O amor não pode ser dito.

Tradução de Thereza Rocque Da Motta 
In The Glance (O olhar), traduzido para o inglês por Coleman Barks, com Nevit Ergin, Viking/Arkana, 1999. EUA, Penguin Books.




mî foi um poeta e mestre espiritual persa do século XIII. Seus poemas adquiriram grande popularidade principalmente entre os persas do Afeganistão, Irã e Tajiquistão.

Enheduanna (ca. 2300 a.C.)

CANÇÃO A INANNA

Na frente de batalha,
vences todos os inimigos -
Ó dama alada, como um pássaro
aras o terreno.
Como uma tempestade que se aproxima
atacas, como um trovão
trovejas,
lanças teus raios,
sopras no vento alvoroçado.
Teus pés avançam.
Carregando tua harpa cheia de suspiros,
exalando uma melodia de luto.


Enheduanna (ca. 2300 a.C.) é a primeira autora a ser identificada na literatura. Filha do rei sumério Sargon (cujos domínios ficavam no que hoje corresponde ao sul do Iraque), era a suma sacerdotisa do deus e da deusa da Lua, Nanna e Inanna. Alguns dos hinos de Enheduanna sobreviveram em tábuas em escrita cuneiforme, e seu retrato foi encontrado num disco de calcário durante as escavações na cidade de Ur.

Inanna, deusa da lua