sexta-feira, 19 de junho de 2020

Charles Baudelaire (1821-1867)

LES CHATS
Charles Baudelaire

Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment égalemanet, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la maison,
Qui comme eux sont firleux et comme eux sédentaires.

Amis de la science et de la volupté,
Ils cherchent le silence et l'horreur des ténèbres;
L'Érèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.

Ils prennet en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des solitudes,
Qui semblent s'endormir dans um rêve sans fin;

Leurs reins féconds sont pleins d'etincelles magiques
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Étoilent vaguement leurs prunelles mystiques. 

(Spleen et idéal. LXVI. "Les Chats", Les fleurs du mal, 1861)

OS GATOS 
Charles Baudelaire

Amantes fervorosos e sábios austeros
Amam igualmente, em sua idade madura,
Os gatos fortes e gentis, o orgulho da casa,
Que, como eles, são loucos e sedentários.

Amigos da ciência e do prazer,
Procuram o silêncio e o horror das trevas;
Érebo aprisionou-os como mensageiros funéreos,
Pudessem, em cativeiro, dobrar seu orgulho.

Sonham e imaginam os nobres gestos
Das grandes esfinges no fundo de sua solidão,
Como se dormissem um sonho sem fim;

Seus rins fecundos estão cheios de mágicas faíscas
E pepitas de ouro, além do pó da areia fina,
Que cintilam em seus olhos místicos.

(Spleen e ideal. LXVI. “Os gatos”, As flores do mal, 1861)
Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta 

Érebo ou Érebos (em grego: Ἔρεβος, transl.: Érebos, “trevas” ou “escuridão”) na mitologia grega, é a personificação das trevas e da escuridão. Tem seus domínios demarcados por seus mantos escuros e sem vida, predominando sobre as regiões do espaço conhecidas como “Vácuo”, logo acima dos mantos noturnos de sua irmã Nix, a personificação da noite. Érebo era filho de Caos. Juntamente com sua irmã gêmea, Nix, nasceram de cisões assim como se reproduzem os seres unicelulares; a partir de partes de Caos, Érebo e Nix passam a ser os imortais mais velhos do universo, logo depois de seu pai. Érebo desposou Nix, gerando mais dois deuses primordiais: o Éter (a Luz celestial) e Hemera (o Dia). Assim como a irmã, era capaz de tirar a imortalidade dos deuses. Érebo é o próprio universo, senhor dos cosmos e dos buracos negros. Hoje, entretanto, é uma potência esquecida. Está encerrado no Tártaro.



terça-feira, 2 de junho de 2020

W. H. Auden (1907-1973)

FUNERAL BLUES
W. H. Auden

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.

CANTO FÚNEBRE
W. H. Auden

Parem os relógios, cortem o telefone,
impeçam o cão de latir com um osso suculento,
silenciem os pianos e, ao som de um tambor surdo,
tragam o caixão; deixem entrar carpideiras.

Deixem os aviões circular em pranto
escrevendo no céu a mensagem Ele morreu,
ponham gravatas de crepe nos pescoços brancos dos pombos,
deixem os guardas de trânsito usar luvas pretas de algodão.

Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste,
minha semana de trabalho e meu descanso de domingo,
meu meio-dia, minha meia-noite, minha fala, minha canção;
acreditei que o amor durasse para sempre: eu estava errado.

Não quero ver as estrelas agora: apaguem todas;
embrulhem a lua e desmontem o sol;
despejem o mar e varram as florestas,
porque tudo de repente perdeu todo o sentido.

Tradução Thereza Christina Rocque da Motta


Alfred, Lord Tennyson (1809-1892)

THE DYING SWAN (1830)
Alfred, Lord Tennyson


1
The plain was grassy, wild and bare,
Wide, wild, and open to the air,
Which had built up everywhere
An under-roof of doleful gray.
With an inner voice the river ran,
Adown it floated a dying swan,
And loudly did lament.
It was the middle of the day.
Ever the weary wind went on,
And took the reed-tops as it went.


2
Some blue peaks in the distance rose,
And white against the cold-white sky,
Shone out their crowning snows.
One willow over the water wept,
And shook the wave as the wind did sigh;
Above in the wind was the swallow,
Chasing itself at its own wild will,
And far thro' the marish green and still
The tangled water-courses slept,
Shot over with purple, and green, and yellow.


3
The wild swan's death-hymn took the soul
Of that waste place with joy
Hidden in sorrow: at first to the ear
The warble was low, and full and clear;
And floating about the under-sky,
Prevailing in weakness, the coronach stole
Sometimes afar, and sometimes anear;
But anon her awful jubilant voice,
With a music strange and manifold,
Flow'd forth on a carol free and bold;
As when a mighty people rejoice
With shawms, and with cymbals, and harps of gold,
And the tumult of their acclaim is roll'd
Thro' the open gates of the city afar,
To the shepherd who watcheth the evening star.
And the creeping mosses and clambering weeds,
And the willow-branches hoar and dank,
And the wavy swell of the soughing reeds,
And the wave-worn horns of the echoing bank,
And the silvery marish-flowers that throng
The desolate creeks and pools among,
Were flooded over with eddying song.


A MORTE DO CISNE (1830)
Alfred, Lord Tennyson


1
A planície estava vazia, relvosa e selvagem, 
Ampla, virgem, e aberta ao céu,
Espalhando por toda parte
Um gramado cinza escuro.
O rio corria com sua voz soturna,
Por ele, flutuava um cisne moribundo,
E ele bradava seu lamento.
O dia já ia pelo meio.
O vento triste continuava soprando,
E sacudia o alto das árvores ao passar.


2
Os cumes azuis elevavam-se à distância,
E brancos contra o céu pálido e frio
Brilhavam seus topos coroados de neve.
O salgueiro chorava à beira d’água,
E agitava as ondas enquanto o vento suspirava;
Acima do vento estava a andorinha,
Arremetendo contra o vento,
E longe através do pântano verde e imóvel
Dormiam os riachos emaranhados,
Cobertos de tufos lilases, verdes e amarelos.


3
O canto de morte do cisne selvagem tomou a alma
Daquele lugar deserto com uma alegria
Escondida na tristeza: a princípio para o ouvido
O trinado soava baixo, cheio e claro;
E flutuando sob o céu,
Cedendo à fraqueza, o canto fúnebre seguia,
Por vezes, longe, por vezes, perto;
Mas logo sua terrível voz, cheia de júbilo,
Com uma música múltipla e estranha,
Fluía sua canção livre e intrépida;
Assim como um povo forte se rejubila
Com charamelas, címbalos e harpas de ouro,
E o tumulto de seu clamor se desenrola
Pelos portões abertos da cidade distante,
Para o pastor que vê a estrela vespertina.
E os musgos rasteiros e as ervas trepadeiras,
E os galhos dos chorões brancos e úmidos,
E o movimento ondulante dos juncos murmurantes,
E os chifres gastos nas ondas às margens ressonantes,
E as flores prateadas dos pântanos que se espalham
Nos riachos e lagos desolados,
Foram inundados com esse canto em torvelinho.


Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta