domingo, 30 de março de 2014

Rosália Milsztajn


QUE VOCABULÁRIO PODEREI USAR CONTIGO

Rosália Milsztajn 



Que vocabulário poderei usar contigo

já que és eterno e a palavra efêmera

se dilui no prazer de dizer

e tudo mais se evapora na formosura da forma – mera ilusão

aparência sem reverberação e consciência de ti que amo

e repito:eu te amo para sempre

e assim não resiste ao desgaste

ao embate fixo da palavra que imobiliza

e no silêncio me sinto em comunhão contigo

que vibra em tudo que cala

e que é escuridão ainda



WHAT WORDS CAN I USE WITH YOU

Rosália Milsztajn



What words can I use with you

as eternal as you are and the ephemeral word

dissolves itself in the pleasure of saying

and everything else evaporates in the beauty of form – a mere illusion

appearance without reverberation and consciousness of you who I love

and I repeat: I love you forever

and so it will be worn out

to the fixed fight of the staring word

and in the silence I feel in communion with you

who vibrates in everything that is silent

and still holds darkness within



Versão: Thereza Christina Rocque da Motta



A TARDE É UMA MULHER RECÉM-SAÍDA DO BANHO

Rosália Milsztajn 



A tarde é uma mulher recém-saída do banho

pingos de chuva em sua pele lisa

como as calçadas nuas e escorregadias



escorre um recomeço verde

revelado nesta luminosidade

frescor de folhas estalando

coisa de florescer



eu e a tarde

suspensas no tempo fotográfico

num canto das folhagens

nos lábios vermelhos do sol – um sorriso

vários verdes desfilam como vestidos

o que guarda esta paisagem

um encontro

um amor?



THE AFTERNOON IS A WOMAN JUST COMING OUT OF A BATH

Rosália Milsztajn 



The afternoon is a woman just coming out of a bath

sprinkled with raindrops on her smooth skin

as naked and slippery sidewalks



a green new beginning flows

revealing under this light

a freshness of crispy leaves

a flourishing thing



I and the afternoon

suspended in the photographic time

on a corner full of leaves

in the sun red lips – a smile

several greens parade like dresses

what does that landscape hold

an encounter

love?



Versão: Thereza Christina Rocque da Motta



In “Este recorte”, Patuá, 2014.



Edgar Allan Poe (1809-1849)



A DREAM WITHIN A DREAM
Edgar Allan Poe

Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow –
You are not wrong, who deem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.

I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand –
How few! Yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep – while I weep!
O God! Can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! Can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?

UM SONHO DENTRO DE UM SONHO
Edgar Allan Poe

Deixa que eu beije a tua fronte!
E, ao separar-me de ti agora,
Deixa-me dizê-lo assim –
Não há erro em crer
Que meus dias foram sonho;
Mas se a esperança se foi
Numa noite ou num dia,
Numa visão ou nenhuma,
Foi pouco o que passou?
Tudo que vemos ou somos
É só um sonho dentro de um sonho.

Fico aqui ante o marulho
De uma praia em tormenta,
E seguro nas mãos
Os dourados grãos de areia –
Apenas um punhado! Mas vê
Como escorrem entre meus dedos,
Enquanto choro – enquanto choro!
Ó Deus! Não posso retê-los
Se mais os apertar?
Ó Deus! Não posso salvá-los
Das ondas cruéis?
Tudo que vemos ou somos
É só um sonho dentro de um sonho?


Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta