THE LOVE SONG OF J. ALFRED PRUFOCK (1920)
T. S. Eliot
Let us go then, you and I,
When the evening is spread out against the sky
Like a patient etherized upon a table;
Let us go, through certain half-deserted streets,
The muttering retreats
Of restless nights in one-night cheap hotels
And sawdust restaurants with oyster-shells:
Streets that follow like a tedious argument
Of insidious intent
To lead you to an overwhelming question...
Oh, do not ask, “What is it?”
Let us go and make our visit.
In the room the women come and go
Talking of Michelangelo.
The yellow fog that rubs its back upon the window-panes,
The yellow smoke that rubs its muzzle on the window-panes,
Licked its tongue into the corners of the evening,
Lingered upon the pools that stand in drains,
Let fall upon its back the soot that falls from chimneys,
Slipped by the terrace, made a sudden leap,
And seeing that it was a soft October night,
Curled once about the house, and fell asleep.
And indeed there will be time
For the yellow smoke that slides along the street,
Rubbing its back upon the window-panes;
There will be time, there will be time
To prepare a face to meet the faces that you meet;
There will be time to murder and create,
And time for all the works and days of hands
That lift and drop a question on your plate;
Time for you and time for me,
And time yet for a hundred indecisions,
And for a hundred visions and revisions,
Before the taking of a toast and tea.
In the room the women come and go
Talking of Michelangelo.
And indeed there will be time
To wonder, “Do I dare?” and, “Do I dare?”
Time to turn back and descend the stair,
With a bald spot in the middle of my hair —
(They will say: “How his hair is growing thin!”)
My morning coat, my collar mounting firmly to the chin,
My necktie rich and modest, but asserted by a simple pin —
(They will say: “But how his arms and legs are thin!”)
Do I dare
Disturb the universe?
In a minute there is time
For decisions and revisions which a minute will reverse.
For I have known them all already, known them all:
Have known the evenings, mornings, afternoons,
I have measured out my life with coffee spoons;
I know the voices dying with a dying fall
Beneath the music from a farther room.
So how should I presume?
And I have known the eyes already, known them all—
The eyes that fix you in a formulated phrase,
And when I am formulated, sprawling on a pin,
When I am pinned and wriggling on the wall,
Then how should I begin
To spit out all the butt-ends of my days and ways?
And how should I presume?
And I have known the arms already, known them all—
Arms that are braceleted and white and bare
(But in the lamplight, downed with light brown hair!)
Is it perfume from a dress
That makes me so digress?
Arms that lie along a table, or wrap about a shawl.
And should I then presume?
And how should I begin?
Shall I say, I have gone at dusk through narrow streets
And watched the smoke that rises from the pipes
Of lonely men in shirt-sleeves, leaning out of windows? ...
I should have been a pair of ragged claws
Scuttling across the floors of silent seas.
And the afternoon, the evening, sleeps so peacefully!
Smoothed by long fingers,
Asleep ... tired ... or it malingers,
Stretched on the floor, here beside you and me.
Should I, after tea and cakes and ices,
Have the strength to force the moment to its crisis?
But though I have wept and fasted, wept and prayed,
Though I have seen my head (grown slightly bald) brought in upon a platter,
I am no prophet — and here’s no great matter;
I have seen the moment of my greatness flicker,
And I have seen the eternal Footman hold my coat, and snicker,
And in short, I was afraid.
And would it have been worth it, after all,
After the cups, the marmalade, the tea,
Among the porcelain, among some talk of you and me,
Would it have been worthwhile,
To have bitten off the matter with a smile,
To have squeezed the universe into a ball
To roll it towards some overwhelming question,
To say: “I am Lazarus, come from the dead,
Come back to tell you all, I shall tell you all”—
If one, settling a pillow by her head
Should say: “That is not what I meant at all;
That is not it, at all.”
And would it have been worth it, after all,
Would it have been worthwhile,
After the sunsets and the dooryards and the sprinkled streets,
After the novels, after the teacups, after the skirts that trail along the floor—
And this, and so much more?—
It is impossible to say just what I mean!
But as if a magic lantern threw the nerves in patterns on a screen:
Would it have been worth while
If one, settling a pillow or throwing off a shawl,
And turning toward the window, should say:
“That is not it at all,
That is not what I meant, at all.”
No! I am not Prince Hamlet, nor was meant to be;
Am an attendant lord, one that will do
To swell a progress, start a scene or two,
Advise the prince; no doubt, an easy tool,
Deferential, glad to be of use,
Politic, cautious, and meticulous;
Full of high sentence, but a bit obtuse;
At times, indeed, almost ridiculous—
Almost, at times, the Fool.
I grow old ... I grow old...
I shall wear the bottoms of my trousers rolled.
Shall I part my hair behind? Do I dare to eat a peach?
I shall wear white flannel trousers, and walk upon the beach.
I have heard the mermaids singing, each to each.
I do not think that they will sing to me.
I have seen them riding seaward on the waves
Combing the white hair of the waves blown back
When the wind blows the water white and black.
We have lingered in the chambers of the sea
By sea-girls wreathed with seaweed red and brown
Till human voices wake us, and we drown.
A CANÇÃO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFOCK (1920)
T. S. Eliot
Vamos, então, você e eu,
Quando a tarde se estende no céu
Como um paciente anestesiado sobre a mesa,
Vamos, atravessando certas ruas semidesertas,
Os refúgios ruidosos
De noites inquietas em quartos de hotéis baratos
E restaurantes fuleiros que servem ostras:
Ruas que seguem como discussões entediantes
Com intenções insidiosas
Para levá-lo a uma pergunta imponderável...
Ah, não pergunte, “O que é isto?”.
Vamos juntos e façamos nossa visita.
Na sala as mulheres vêm e vão
Falando sobre Michelangelo.
A parda neblina que se esgueira nas vidraças,
A parda fumaça que se esfrega nas vidraças,
Lambe as esquinas da noite,
Demorando-se nas poças nas bocas de lobo,
Deixou cair em seu dorso a fuligem das chaminés,
Deslizou pelo terraço, deu um salto súbito,
E ao ver que era uma suave noite de outubro,
Enrodilhou-se em volta da casa, e adormeceu.
E de fato haverá tempo
Para a densa névoa que desliza pela rua,
Roçando as costas pelas vidraças;
Haverá tempo, haverá tempo
Para preparar-se e encarar todos os que encontrar;
Haverá tempo de matar e de criar,
E tempo para todos os trabalhos e dias para as mãos
Que se erguem e lhe fazem perguntas;
Tempo para você e tempo para mim,
E tempo ainda para uma centena de indecisões,
E para uma centena de visões e revisões,
Antes das torradas com chá.
Na sala as mulheres vêm e vão
Falando sobre Michelangelo.
E de fato haverá tempo
Para pensar: “Ousarei?” e, “Ousarei?”.
Tempo de voltar e descer as escadas,
Com a calva mostrando-se no alto da cabeça –
(Dirão: “Como ele está ficando careca!”)
Meu casaco, o colarinho cobrindo o queixo,
Minha gravata elegante e modesta, mas segura por uma presilha –
(Dirão: “Como seus braços e pernas estão finos!”)
Ousarei
Perturbar o universo?
Num minuto haverá tempo
Para decisões e revisões que reverterão em um minuto.
Pois eu já conheci todos, conheci-os todos:
Conheci as noites, as manhãs, as tardes,
Medi minha vida com colheres de café;
Conheço as vozes que morrem ao final do outono
Por entre a música que vem de uma sala mais longínqua.
Então o que devo pensar?
E eu já vi olhos, vi-os todos –
Os olhos que se fixam ao formular uma frase,
E quando me formulo, espalhando-me num alfinete,
Quando estou alfinetado e me retorcendo na parede,
Então como devo começar
A cuspir as bitucas dos meus dias e modos?
E como eu devo ousar?
Já vi os braços, vi-os todos –
Braços com braceletes, brancos e despidos
(Mas à luz da lâmpada, cobertos com pelos castanhos claros!)
É o perfume de um vestido
Que tanto me faz divagar?
Braços pousados sobre a mesa, ou envoltos num xale.
E então eu deveria ousar?
E por onde devo começar?
E eu direi que caminhei ao anoitecer por ruas estreitas
E vi a fumaça que subia dos cachimbos
De homens solitários em mangas de camisa, debruçados nas janelas?...
Eu deveria ser um par de garras esfarrapadas
Escorregando pelo fundo de mares silenciosos.
E a tarde, a noite, dormir tão pacificamente!
Acarinhado por longos dedos,
Adormecido... cansado… ou fingindo que está doente,
Estirado no chão, aqui ao nosso lado.
Deveria eu, após o chá, bolos e sorvetes,
Ter a força para provocar uma crise neste momento?
Embora eu tenha chorado e jejuado, chorado e orado,
Embora eu tenha visto minha cabeça (ligeiramente calva) trazida numa bandeja,
Não sou profeta – e isso não tem importância;
Eu vi o instante da minha maior fraqueza,
E vi o eterno Lacaio segurar meu casaco, e o riso
E, em suma, eu senti medo.
E teria valido a pena, afinal,
Depois das xícaras, da geleia, do chá,
Entre a porcelana, entre as palavras que dissemos,
Teria valido a pena
Ter cortado o assunto com um sorriso,
Ter comprimido o universo numa bola,
Rolando-a para uma pergunta excruciante,
Dizendo: “Sou Lázaro, ressurgi dos mortos,
Voltei para lhe dizer a todos, eu direi a todos” –
Se alguém, colocando um travesseiro sob sua cabeça
Dissesse: “Eu não quis dizer isso;
Não é isso, nada disso”.
E teria valido a pena, afinal,
Teria valido a pena,
Depois dos pores do sol e das portas de jardins e das ruas salpicadas,
Depois dos romances, depois das xícaras de chá, depois das saias que se arrastam pelo chão –
E isto, e muito mais? –
É impossível dizer o que quero dizer!
Mas, como se uma lanterna mágica mostrasse a rede nervosa sobre a tela:
Teria valido a pena
Se for um, colocando um travesseiro, ou pondo um xale,
E, voltando-se para a janela, dissesse:
“Não é nada disso,
Não é isso o que eu quis dizer, não mesmo”.
Não! Eu não sou Príncipe Hamlet, nem pretendo ser;
Sou um lorde, um que fará tudo
Para incutir o progresso, começar uma cena ou outra,
Aconselhar o príncipe; sem dúvida, um instrumento fácil,
Diferencial, feliz em servir,
Político, cauteloso, e meticuloso;
Cheio de grandes frases, mas um pouco obtuso;
Às vezes, de fato, quase ridículo –
Quase, às vezes, o Bobo.
Eu envelheço... Eu envelheço...
Vou enrolar as bainhas das minhas calças.
Devo repartir meu cabeço atrás? Ouso comer um pêssego?
Vestirei calças brancas de flanela, e andar pela praia.
Ouvi as sereias cantando, de uma para a outra.
Não creio que cantarão para mim.
Eu as vi nadando sobre as ondas para o meio do oceano
Penteando as espumas das ondas sopradas para trás
Quando o vento sopra as águas brancas e negras.
Demoramo-nos nas câmaras do mar
Junto a sereias envoltas em algas vermelhas e castanhas
Até vozes humanas nos despertarem, e nos afogamos.
Tradução: Thereza Rocque da Motta