LE SPECTRE DE LA ROSE
O TRAJE DE NIJINSKY O traje de malha de seda de Nijinsky foi desenhado por Léon Bakst. O traje era coberto de pétalas de rosa de seda que eram costuradas no traje de Nijinsky a cada espetáculo. Depois da apresentação, a camareira retocava as pétalas com seu modelador de cabelo. A maquiagem de Nijinsky era uma parte importante do figurino. Romula de Pulszky, que mais tarde tornou-se sua esposa, escreveu que ele parecia “um inseto celestial, com sobrancelhas que sugeriam um lindo besouro”. O traje de Nijinsky equivalia ao de uma bailarina. Às vezes, as pétalas se soltavam e caíam no palco. Vasili, o assistente de Nijinsky, recolhia as pétalas e vendia-as como souvenirs. Diz-se que construiu uma grande casa chamada “Le Château du Spectre de la Rose” com o que auferiu com a venda das pétalas.
O SALTO DE NIJINSKY O balé tornou-se famoso pelo salto de Nijinsky por uma das grandes janelas ao fundo do palco. A altura do salto, no entanto, era uma ilusão. Nijinsky dava uma corrida de cinco passos do meio do palco e saltava pela janela no sexto passo. A base da janela era muito baixa, dando a impressão de que o salto fosse mais alto do que era. Nos bastidores, quatro homens seguravam Nijinsky ainda no ar, pondo toalhas quentes sobre ele. Ninguém na plateia via Nijinsky tocar o chão, dando a impressão de continuar voando. Essa ilusão era enfatizada pelo maestro que sustentava o penúltimo acorde da orquestra. Ao fazer isso, o salto dava a impressão de ter maior comprimento e altura.
A COREOGRAFIA DE FOKINE Michel Fokine completou a coreografia do balé em três ou quatro ensaios. Mais tarde, escreveu que o balé foi quase um improviso. “O Espectro” é um pas de deux sem a complexa técnica e virtuosismo do século 19, como uma dança moderna, com movimentos e expressividade contínuos. Fokine abandonou o port de bras do balé clássico ao criar essa coreografia para Nijinsky. Em vez disso, usou movimentos curvos dos braços e das mãos, semelhantes às hastes das roseiras. Nijinsky, neste balé, tornou-se um personagem andrógino, mostrando força masculina nas pernas e delicadeza feminina nos braços, o que, segundo Ostwalt, em “Nijinsky: Um salto para a loucura” , “emprestava uma aura feminina ao personagem”.
A SINOPSE A cortina se abre no quarto de uma jovem. Ela entra, usando um chapéu branco e um vestido de baile. Ela está voltando para casa após seu primeiro baile, segurando uma rosa como lembrança daquela noite. Deixa-se cair numa cadeira e adormece. A rosa tomba de seus dedos no chão. O Espírito da Rosa salta pela janela. Ele pousa e aproxima-se da Jovem. Dormindo, ela se levanta e dança com ele. Ele a devolve à cadeira, beija-a, salta pela janela e some na noite. A Jovem desperta e se levanta. Pega a rosa do chão e a beija. A cortina se fecha.
Fazendo pesquisa sobre a origem de todos os balés clássicos desde 1789 (La fille mal gardée), até Spartacus, de 1956, quero saber onde foram buscar as inspirações... Juntei 32 balés até agora. Na verdade, fui até Onegin, de John Cranko, de 1965, com música de Tchaikovsky, inspirado no romance em versos de Puchkin, "Eugene Onegin", para o qual o compositor russo fez uma ópera. Muitas vezes nos surpreendemos com o que encontramos. O balé "O Corsário", de 1856, por exemplo, foi inspirado num poema homônimo, de Lorde Byron, de 1814. A novela "Carmen" de Prosper Mérimée, de 1845, inspirou Bizet a escrever uma ópera, em 1875. O balé só foi criado para a mesma música em 1949, mais de 100 anos depois da publicação do livro. Uma das histórias de que mais gosto é a do poema de Mallarmé, que 18 anos depois, se tornou o "Prelúdio para a Tarde de um Fauno", de Debussy, que 18 anos mais tarde, foi coreografado e dançado por Nijinsky, em 1912, em Paris. Um poema que virou música e depois virou balé. O primeiro poema pré-moderno, que se tornou a primeira música impressionista, que gerou o primeiro balé moderno, com um intervalo de 18 anos entre cada um deles. Mallarmé pediu a Debussy que compusesse uma suíte para “A tarde de um fauno”, para ser lido junto com seu poema, porém desistiu do pedido, quando Debussy já criara o Prelúdio, executando-o 18 anos após a publicação do poema. Em 1912, Nijinsky estreou a primeira coreografia moderna para a primeira música clássica impressionista, inspirada num poema pré-moderno, 18 anos depois da 1ª execução da música, assistida por Mallarmé, que, no entanto, não chegou a assistir ao balé. Debussy, porém, estava na plateia do Théatre du Châtelet, onde a coreografia de dez minutos foi ao mesmo tempo aplaudida, vaiada e ovacionada pelo público, que reunia toda a Paris. Entre eles, estava Rodin, que se inspirou para fazer uma estatueta de Nijinsky dançando o Fauno. Essa história eu publiquei em livro, com a edição bilíngue do poema de Mallarmé, "A tarde de um fauno".